Este post, na verdade, é uma comemoração pessoal minha. Vocês rirão do motivo, mas bem, vamos lá: Eu finalmente vou poder ver a adaptação pros cinemas de Entrevista com o Vampiro. Sim, eu nunca vi este clássico de 1994, - ("Você nunca o assistiu no Tela de Sucessos não, meu filho?" "Pois é, eu tinha medo quando criança") - e não precisa me rechaçar não; praticamente todos os meus amigos já fizeram isso quando eu os contei. Mas se quer realmente entender porque demorei tanto para tomar essa iniciativa, não tenho mais porque esconder: Eu ansiava pelo livro primeiro. Anne Rice sempre me cativou, seja pelos trechos soltos que já tinha lido ou pelo jeitinho excêntrico que ela me passava. Agora que eu finalmente peguei neste primeiro volume das Crônicas Vampíricas - e o li em um pouco mais de três madrugadas angustiantes - sei que este livro não chega nem perto de ser apenas um conto de vampiros.
Entre tantas formas de apresentar a vida de Louis para nós, pobres humanos, Rice criou um paralelo interessante entre o presente e o passado no percorrer da história - Trajetória tão detalhada que você se sentirá um verdadeiro habitante da Nova Orleans do séc.XVIII. Digo isto porque Entrevista com o Vampiro, como já deve ter ficado claro, coloca um jovem rapaz da atualidade no papel do entrevistador deste homem misterioso, de pele alva e traços indescritíveis, que clama ser um vampiro. Não apenas um mero vampiro, não; mas um antigo, de mais de 200 anos de vida. Parar comprovar a veracidade deste fato, Louis começa uma narrativa arriscada, dissecando todos os seus anos vampíricos entregues a uma passividade quase completa ao vampiro que lhe transformou - O narcisista e maléfico Lestat. Apesar de se submeter por anos a um relação de amor e ódio por seu meste, Louis conhece um universo inimaginável ao lado de Lestat, cheio de carnificina, crueldade, frieza e muito, muito sangue. Mas é com um presente de Lestat para Louis que a história aquece uma das figuras mais fantásticas que a literatura que concebeu - A "vampira-criança" Claudia, uma bela e cruel vampira transformada apenas em seus quatro anos de idade.
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Imagem: Blog Quarto Geek |
A própria abinha desta nova edição lançada pela Rocco deixa bem claro: "Entrevista com o vampiro não é um livro de terror. É, isto sim, um retrato provocante de uma época de vertiginosa vampirização em todos os meios e sob todas as formas" É tão compreensível a forma como Anne traduz os sentimentos de Louis para o leitor - até mesmo quando ele mesmo não entende seus motivos de se entregar pelo seu mestre - que boa parte do livro escapa do mero universo material, levando-nos a uma desconstrução crua dos personagens presos à sua época. Até mesmo personagens secundários, como a humana até à flor da pele Babette ou desequilibrada Madeleine, ganham uma vida aquém de seus papéis, esboçando muito mais do que a natureza dos vampiros, mas sim, na natureza humana. Afinal, a busca de Louis pelas origens de sua nova natureza não se afasta tanto da nossa procura pelo que é mais correto para nós. E se a pergunta "Existe bondade em um vampiro?" não lhes parece capciosa, tenho plena certeza que Interview with the Vampire clicará esta reflexão em você por boa parte da leitura.
O livro quebra várias lendas sobre vampiros sem ofender ao material original, seja quanto a dita "eternidade" ou pelo raciocínio da espécie, revitalizando uma história que tinha tudo para soar batida ou repetitiva - Um sentimento que em nenhum momento é presente no livro. Até mesmo hoje, décadas depois de seu lançamento, olho para este livro e penso em "novo"; uma palavra que quase adjetiva o que clássico instantâneo (Imediatismo que hoje já podemos confirmar) significa. A diferença entre a futilidade de Lestat e a inteligência fria de Armand dificulta a nossa tentativa de encontrar um melhor caminho para Louis, o que é engraçado porque, pelo menos eu como leitor, acabo sempre me encantando pelos personagens mais defeituosos da trama (Em outras palavras, Lestar FTW). Não estamos falando aqui de um triângulo amoroso aqui (Ou estamos? Hahaha. Bem, a bissexualidade que Anne Rice evoca em quase TODOS os seus livros não é apenas uma impressão...), mas sim da diferença entre ideais. O que é melhor: A ignorância fútil ou a completude infeliz?
Vocês vão perceber que tracei vários questionamentos nesta resenha com respostas que preferi omiti. Honestamente, não é porque as considero um spoiler... Mas sim porque todas são muito pessoais. Entrevista com o Vampiro não é um livro muito linear em sua narração (E não estou falando apenas na ideia de que a narrativa brinca passeia entre os momentos da entrevista e os presos ao passado) e isto sempre deixa o livro mais instigante ou, melhor ainda, facilmente feito para ser relido. E para aqueles que pegarem o livro e chegarão ao final alucinante dessa entrevista, só tenho uma perguntinha a fazer: `Será que o entrevistador encontrou o que ele procura? Podem ter certeza que a sequência "O Vampiro Lestat" ainda aparecerá por aqui especialmente para (mim e para) vocês.
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Nada como uma brincadeirinha saudável, né Lestat? |
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