Quebra de Confiança - Harlan Coben, Por Trinta.

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Atire a primeira pedra quem nunca tentou desvendar um whodunit. Para quem não sabe, este bom e velho quebra-cabeça mental típico dos romances policiais se constitui, basicamente, da clássica pergunta "Quem matou Fulano?", artifício criativo que já rendeu muitos pocket books da Agatha Christie e, por aqui no Brasil, uma safra interminável de novelas das oito - Afinal, Quem matou Odete Roitman? ("Vale Tudo", 1988. SIM, não é  "A Próxima Vítima", como muitos erram!). Com tanto assassinato "sem solução" na boca do povo, acho que você vai concordar comigo quando digo que escrever este tipo de livro é tão inovador quanto criar uma nova série procedural de médico para a TV a cabo ("E.R", "House", "Grey's Anatomy" que se expliquem... ). Mas como toda temática desgastada, sempre há aquele escritor que sabe com que clichê está lidando e, desta vez, convoco Harlan Coben para mostrar-los que ainda há formas divertidas de trabalhar este gênero. 

Somos apresentados a um tal de Myron Bolitar - Sim, nome tão zombável que o próprio personagem se auto-sacaneia - um agente esportivo bonitão e "cheio da manha" responsável por uma das maiores promessas do futebol americano do momento. Esta se chama Christian Steele, o aclamado menino de ouro da mídia, exceto pela sua vida pessoal nada bonita no papel: Há pouco mais de um ano, sua noiva Kathy Culver foi dada como desaparecida e a única prova material do que pode ter acontecido foi encontrada em uma lixeira de sua universidade, na forma de uma calcinha ensaguentada. Prestes a fechar o maior negócio de sua carreira, Christian vê o seu passado voltar para persegui-lo quando uma revista pornô aparece em sua caixa de correio... Com, nada mais nada menos, do que uma foto de Kathy nua em um dos anúncios de disque sexo. Agora, Myron terá que proteger a todo custo o nome de seu cliente e, para isto, terá que utilizar de todas as suas habilidades investigativas e contatos da indústria do dirty talk

Harlan é esperto. Todos sabem que o grande problema deste gênero se chama "caso meh, personagens esquecíveis". A primeira coisa que Coben fez? Criou o seu próprio "Poirot" na figura carismática do protagonista Myron Bolitar. Charmosão para as mulheres e um filho da mãe troller para os homem, Myron é um personagem capaz de agradar a todos ao reunir as qualidades e defeitos certos para este tipo de literatura; Mulherengo, sarcástico, boa pinta e, principalmente, dotado de uma inteligência mais puxada para a "malandrisse" do que para um QI de Harvard. Você não vai ver neste mistério jogos de lógicas avassaladores, do tipo que só um androíde entúpido de memória RAM resolveria. Todas as pistas e conexões você seria capaz de fazer brincando e apenas deixou passar (Ou não, se você for um bom malandro) por falta de atenção e gaiatisse. 

Ao mesmo tempo, o "Sr.Watson" de Quebra de Confiança, ironicamente presta o papel de Sherlock Holmes da história. Este é Win, o melhor amigo e ajudante de Myron, uma espécie de nerd multimilionário faz-tudo que se responsabiliza pelas sacadas mais geniais na resolução do caso. A química absurda entre os dois personagens, honestamente, fazem o livro. Você pode até não curtir o mistério de Kathy (Apesar de eu achá-lo, honestamente, bem bolado!), mas você vai querer continuar a ler graças a comicidade destes dois. (Close no encontro com o mafioso Herman Acher. Em outras palavras, LOL.)

Com os ingredientes certos, este primeiro conto da série Myron Bolitar traz uma leitura bem agradável, com pitadas adequadas de romance (Afinal, a irmã de Kathy Culver se revela como um amor do passado de Myron!) e um suspense ponderado. Talvez a maior decepção do livro seja o final, que não foi tão forte quanto poderia ter sido (Acho que tive este problema por ter sempre pensado que a culpa fosse deste personagem) - O twist, definitivamente, não conseguiu me twistar. Mesmo assim, não acho que seja um livro que se limite a resolução do caso em si. Na verdade, a obra de Coben merece nota 10 no quesito "desenvolvimento"; aquele desenrolar da história que nos deixa compenetrado em cada instante, fato que por si só, vale por todos os minutos gastos matutando o mistério mais erótico da carreira de Bolitar. 

P.S: Ah, claro, não vou culpá-los se preferir o Winn ao ler o livro - Ele é realmente aquele personagem DIGNO de ser favoritado. 


P.S.II: Muita gente tem preconceito com isto, mas  a forma como Harlan usa palavrões sem fazer o livro soar forçado demais para o público masculino ou sujo demais para os mais comedidos me impressionou. Ele sempre mantém a linha, mantendo o livro realista e plausível, o que torna o ritmo da história apropriado tanto para o público adulto quanto para os mais novos.


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