Briga de marido e mulher, só Shakespeare para meter a colher. Por que ele, sinceramente? Enfia, remexe, mói, descasca, regurgita, bate e rebate tudo sobre os relacionamentos humanos com a simplicidade que nem Sigmund Freud teve para conseguir conquistar tanto as altas quanto as baixas camadas sociais. Escritor de peças conhecidíssimas na literatura como "Hamlet", "Romeu e Julieta" e "Sonhos de Uma Noite de Verão", William Shakespeare, apelidado carinhosamente pela minha pessoa para Tio Will, sempre foi um autor que tive muito receio de ler. E olha... Eu tentei desde pequeno. Lembro até hoje de pegar Hamlet - Sim, riam, HAMLET! - nos meus ingênuos nove anos e, consequentemente, de ficar traumatizado por não passar do começo (Leiam começo como segunda página). Porém, como a minha velha amiga e parceira Pat diz... "Alguns livros vem com o tempo" e agora, nos meus vinte anos, não apenas digeri "A Megera Domada" em apenas um dia como também tenho o orgulho de dizer para vocês: Receios, receios, arrivederci!
A comédia de Shakespeare conta a história de Lucêncio, um rapaz que visita a cidade de Pádua com seu criado, Trânio, para buscar os conhecimentos que só a universidade poderia lhe dar. Mal chega na região e o destino o faz encontrar Batista, um nobre senhor, junto com suas duas filhas Bianca e Catarina. A primeira, delicada e rodeada por pretendentes (Ilustrados pelas figuras de Grêmio, um velho safado e Hortênsio, um charlatão de primeira), logo lhe chama atenção e o faz cair de amores. Porém, Lucêncio descobre que, além de ela já ter mil homens aos seus pés, conquistar Bianca requer transpassar um obstáculo muito maior. Este é sua irmã mais velha Catarina, uma mulher ranzinza e tempestuosa, motivo de dor de cabeça para o pai. Devido a personalidade "única" da filha, Batista decide que só quando Catarina estiver muito bem casada Bianca poderá namorar e enlaçar o seu próprio noivado. E é a partir desse cenário que Lucêncio - e todos os outros capachos de Bianca - procura um jeito de casar Catarina. O jeito? Um sujeito que começa com "P" e termina com "etrúcio".
Pegando um pouco do que o tradutor Millôr Fernandes quis dizer no glossário do livro, A Megera Domada é um livro tão rápido, tão rápido que transforma casamentos em um evento digno de serem feitos "no domingo que vem". Com esta crítica clara a instabilidade e futilidade da sociedade da época, The Taming of the Shrew pode até soar caricato demais para alguns, mas a verdade é que ele é uma comédia contextualizada com o seu povo; Você duvida mesmo que os duques, condes, ferreiros e passadeiras não se acabavam de rir com esta história? Todos os fatos do livro são narrados de um forma bem ágil, de uma fácil compreensão para qualquer público, e isto é explicado com o grande forté da história - os ÓTIMOS e CÔMICOS bate-bocas entre Petrúcio e Catarina.
Farpa para lá e alfinetada para cá, a invenção daquela velha química do "se odeiam mas se amam" nasceu neste livro, e eu, como um fiel seguidor da filosofia Sem briga não tem amor, digo que a Megera Domada é aquela obra que todo mundo se divertiria e até encontraria algumas verdades escondidas no meio de tanto barraco discussão. Acredito que as pessoas possam ver a imagem de Katharine/Catarina como a de um início de feminismo, e isso é até bonito, na teoria. Mas eu não a compartilho. Esta leitura da personagem é muito mais condizente com as adaptações feitas da megera em outros veículos (Como os que mostrarei no final do post) do que da verdadeira e original Catarina de Shakespeare. Esta, meu amigo, é honestamente uma chata de galochas - Sim, esta expressão bizarra mesmo tem que ser usada aqui. O seu discursinho final funciona pelo humor, mas só mostra o quanto ela não funciona MESMO num discurso de pré-feminismo. Tanto é que a "moral da história" da Megera Domada contradiz TOTALMENTE esta idéia e funciona muito mais para o séculos XVI do que para o novo milênio. Mas Shakespeare não poderia prever isto, e o seu mérito, aqui, deve ficar para suas ótimas noções de comédia e sátira.
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