Adeus Ano Velho! Mas antes disso...

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Isso não era para ser grande coisa. Quero dizer, há um ano atrás nós nem pensávamos no que seria esse tal de Escolhendo Livros. Este site nasceu como uma estrela cadente para eu e a Patrícia; uma ideia corrida, mas estupidamente graciosa que caiu nas nossas vidas assim... De repente. É incrível como a simplicidade é a melhor arma para se alcançar grandes metas: Nós escrevíamos, fazíamos posts, enfeitávamos o layout, chamávamos amigos para ajudar... Nada muito surpreendente,  mas era (ou melhor, é) como uma colcha de retalhos costurada pelas melhores mãos. Quando o Natan e o Julio chegaram então, sabíamos que tínhamos uma equipe, uma palavra que eu passei a adorar durante todo este falso ano apocalíptico. Agora estamos aqui, recebendo uma quinta integrante e tudo que há para se dizer é... Uau, isso tudo está realmente acontecendo? E é com esse post de estréia da nossa já querida Laísa Couto que desejamos para todos vocês um "Feliz Ano Novo!" bem sincero, com muita paz e sabedoria.

Ah... E livros. Sempre livros.
                                          
 

  
Palavras Perdidas

Um texto de Laisa Couto


        Carrego todo peso das palavras mudas em minhas costas. Encontrei-as abandonadas pelos becos por onde eu não deveria estar. Numa noite fria, encontrei dentro da lata de lixo a palavra "Sonhos", estava suja e machucada, os "Sonhos" tinham sido jogados fora, abandonados. Eu, com pesar das pobres letras, as limpei, as ordenei e coloquei-as sobre minhas costas. Eu as carregaria até minhas forças esgotarem, seria suas pernas.

    Choramingando numa esquina escura, encontrei o "Destino". Estava desorientado e tinha perdido a noção do tempo, gritava para si mesmo "Estou atrasado, atrasado!". Eu nada pude dizer para reconfortá-lo, apenas enxuguei suas lágrimas e o tomei nas costas. Ajudaria o "Destino" a encontrar seu próprio caminho.

    "Sonhos" e "Destino", apesar de serem somente duas palavras, elas pesavam em proporções infinitamente maiores que suas sílabas. A tarefa era árdua, mas eu agüentei firme, com passos precisos, até encontrar encostada num poste a "Sorte", tinha um "ar cheio de si", confiante demais. Eu me aproximei, duvidando que estivesse precisando de ajuda, no meu íntimo eu sabia que aquele encontro era mais um de seus truques, mais um jogo de sua natureza - o acaso.

    A palavra era pequena, porém muito sedutora, um tesouro precioso a "Sorte"! Mas percebi que esse tesouro era falso quando ela me ofereceu uma de suas letras. Tentou me convencer que eu teria tudo que eu desejasse, todavia em troca desse fabuloso presente eu teria de dar-lhe outro tesouro - a minha alma. Chocada com a proposta, rapidamente desvencilhei-me da sua voz, mesmo querendo ficar perto e escutá-la mais uma vez.

     Eu corri sem me dar conta para aonde estava indo. Tinha até esquecido do peso que carregava, só parei quando uma luz intensa ofuscou-me, levei minhas mãos aos olhos, fiquei cega por uns instantes. Depois que minha visão acostumou-se à luz, me vi no alto de uma ponte, um rio corria metros distantes abaixo e sentada na amurada da ponte, havia uma palavra pequenina, inocente, pueril e esquecida.

   Percebi por sua palidez que a vida estava se extinguindo naquelas três letras, elas já não tinham mais lágrimas para chorar, estava só, ninguém se lembrava dela, nem eu mesma me recordava de quanto era bela, observei seu semblante sereno, trouxe-me certa tranqüilidade que há muito tempo não sentia.

     Eu me aproximei, só que ela ameaçou se jogar das alturas. Querendo poupá-la, eu recuei. Havia me dado conta de que se ela sumisse desse mundo, a minha vida iria com ela. Eu me senti completamente impotente, os "Sonhos" e o "Destino" pesavam sobre frágeis costas, atirei-me de joelhos ao chão, estava cansada em demasia, no entanto para minha surpresa naquele momento a pequena palavra suicida se compadeceu de mim e disse: "Não está vendo? Você está me matando!". Eu confesso que senti raiva ao escutar isso, mas depois veio o medo, medo de perdê-la.

    Estava vendo minha "Paz" morrer, escorregar por minhas mãos como grãos de areia, ela iria embora para sempre, desesperada eu perguntei: "O que eu posso fazer para te salvar?". A "Paz" nada respondeu, eu não tinha feito a pergunta certa, então me corrigi: "O que posso fazer para me salvar?". Fiquei a espera da resposta e ela veio: "Livra-se de todo peso". Incrédula, eu retruquei: " Como? Não posso me desfazer dos "Sonhos" e do "Destino" !". A Paz, paciente como era falou: " Não são os "Sonhos" e nem o "Destino" que pesam sobre suas costas, mas sim a dor que você arrasta. Veja, todas as más lembranças estão atreladas na corrente que se prende a sua vida!"

    Finalmente, eu tinha visto todas as piores palavras saídas das profundezas do passado, todas atreladas a corrente que se prendia num dos meus tornozelos. Assustada, comecei a chorar, tentei soltá-la, mas ela estava presa não na minha carne, mas na minha alma. A "Paz" pequenina e sábia, disse: "Livre-se desse peso, então eu voltarei a habitar o lugar de onde eu nunca deveria ter saído - o seu coração".

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