Paralela Mente - Huffington Post: "Ghostwriting: não dá pra sermos honestos?"

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Fala, gente bonita, fina e sensual!

Como vai esse domingo? Bom ou nem? Espero que o de vocês esteja melhor do que o meu, porque, olha, tá muito calor e eu tô com sono e já to vendo o tanto de coisa que eu vou ter que fazer pra essa semana na faculdade e ai, não quero. Preciso de férias.

Então, galerinha, hoje vim aqui postar mais uma tradução exclusiva do Escolhendo Livros pra vocês. Já ouviram falar em ghostwriting? Não? Então vem aprender com a gente.


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Eu trouxe o livro "Elixir", da Hilary Duff, comigo para a praia neste final de semana. Eu havia planejado dar uma rápida olhada nele e ler os primeiros capítulos: tempo o bastante pra ver se eu quereria continuar com ele. O que eu percebi é que eu passei boa parte do sábado e do domingo lendo e até mesmo acordei na manhã de segunda-feira para tomar meu café lá fora e ler mais alguns capítulos. Um dos meus amigos me perguntou o que eu estava fazendo acordada tão cedo e eu mostrei a ele o livro. "Você esteve lendo isso o final de semana todo", ele disse, "Eu não fazia ideia de que a Hilary Duff era escritora, ainda mais uma das boas".

Humf.

Eu tentei, no passado, escrever sobre ghostwriting [ato de escrever um livro usando um escritor-fantasma] e falhei. Eu tenho muitas opiniões sobre todo o assunto e estou constantemente me censurando para ter certeza de que eu não soo como uma escritora amarga. É um debate árduo. Por um lado, eu entendo que esses livros são extensões das marcas da celebridade. Eles têm DVDs e programas de TV, artigos em revistas e bonecos de plástico... por que não escrever livros também? Mas quando meu amigo parou na minha frente, olhando a capa do livro, eu não tive coragem de dizer que a Hilary Duff era uma boa escritora. Porque, veja, eu não acredito que ela tenha escrito o livro.

Deixe-me esclarecer uma coisa: eu não tenho problemas com o ghostwriting em si. O que me incomoda é a forma como isso é envolto em mistério, ignorado ao ponto da mentira deslavada. Por que não ser honesto? Qual é o problema em dizer "ei, eu sou uma estrela de cinema. Sou super ocupada, e por mais que eu esteja muito a fim de lançar um livro, eu não vou me sentar na frente do computador por seis horas por dia durante um ano e meio para fazê-lo, então eu preciso de uma ajudinha aqui". Eu respeitaria isso, porque simplesmente estampar o nome da Hilary Duff na capa do livro, tê-la dando autógrafos e fazendo leituras, vê-la em talk shows matinais e em entrevistas com David Letterman não a torna a autora da história. Também (e isto tem mais a ver com o que estou dizendo) não a torna uma escritora.

Escrever é difícil. É preciso ter comprometimento, determinação e uma boa dose de talento. Não é um pensamento posterior, um adendo: é uma carreira. Então, enquanto fico satisfeita por dizer ao meu amigo "este livro é realmente bom, e está relacionado à Hilary Duff", o que eu não posso dizer a ele é: "Hilary Duff é uma excelente escritora".

Para mim, é meio como eu ligar para Julia Roberts e informá-la de que eu vou estrelar o próximo filme dela. "Mas você não atua", ela poderia dizer gaguejando (se é que a Julia Roberts gagueja. Aliás, se é que ela responderia uma ligação minha). "Claro", eu diria, "mas é meio que um sonho meu estrelar um filme. E eu acho que seria realmente ótimo pra minha marca pessoal". "Certo, mas você não atua", ela diria, um pouco mais claramente desta vez. "Não se preocupe", eu diria, "eu sou uma escritora, as pessoas me conhecem".

Errado. É mais como: eu sou uma escritora, as pessoas não me conhecem.

Mas a questão continua: eu não atuo. Eu não tenho experiência nisso. Eu não sei como entrar no personagem, como memorizar as linhas propriamente. Eu não tenho a menor noção de sincronia ou de horários para ensaios ou de protocolo em cena. Não é minha profissão.

Eu sempre ouvi escritores dizerem que somos prejudicados com glamour. A maioria das pessoas não sabe como somos fisicamente (o que é bom, considerando que a maioria do nosso dia de trabalho é passado em calças de moletom). Nós não temos aberturas chiques de galerias e não caminhamos em carpetes vermelhos. Na maior parte do tempo nós nos sentamos bebendo copiosas quantidades de café e temos um embate com as palavras perfeitas para usar na ordem perfeita para revelar uma verdade que vai fazer alguém sentir alguma coisa. É algo muito trabalhoso de se fazer, mas há alguns de nós que são chamados para fazê-lo e, se tivermos sorte o bastante para nos atentarmos a isso, é uma vida incrivelmente compensadora.

Tyra Banks quer vender uma trilogia? Maravilha. Lauren Conrad quer ter um best seller no New York Times? Mais força pra ela. Mas lançar livros, surgir com um conceito de livro, até mesmo editar livros não é a mesma coisa que escrevê-los. Todo mundo tem uma história pra contar e em um mundo perfeito todo mundo teria a oportunidade de contá-las. Alguns de nós têm as histórias, alguns de nós têm as palavras e alguns têm as duas coisas. Vamos honrar as porções que trazemos para a mesa e dar crédito aonde ele é devido.

É claro que há aqueles que vão argumentar que eu entendi tudo errado. E quem sabe, talvez eles estejam certos. Talvez a senhorita Duff sonhe em ser autora desde os seis anos de idade. Talvez cada momento livre que ela tem seja gasto escrevinhando em cadernos e baixando versões novas do Word. Talvez o ponto central da carreira dela -- o programa de TV, os filmes, a aparição em Gossip Girl -- era que eventualmente, algum dia, ela apostaria em escrever um livro.

Digo, essa é realmente a minha opinião.

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Olha, eu não conheço muito a Hilary Duff e também não faço a menor ideia de se ela escreveu ou não o tal “Elixir”, mas, falando francamente, um livro assinado por ela não me chamaria a atenção se eu estivesse passando os olhos pelas estantes da livraria. A não ser que ele tivesse uma capa rosa com glitter, mas isso são outros quinhentos.

E agora eu vou dormir porque eu tô com sono. Depois a gente conversa mais. Beijo pra todo mundo e tenham uma ótima semana. Até mais!



Ghostwriting: não dá pra sermos honestos? é uma tradução exclusiviva do Escolhendo Livros 
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