"Anastasia Steele, o que você está fazendo comigo?" Ora, Mr. Grey, eu posso até não saber qual o feitiço da garota, mas que todo mundo parece estar na mesma situação que você, afim de descobrir qual é a deste romance aí... Ah, isso eu posso te confirmar de mãos atadas. Se bem que, er, melhor não atar não, né? Quero dizer, isso é meio que assunto sério para você, Christian. Deixando o tal do Senhor Controle um pouco de lado, me responda você, caro leitor que ainda não saca que diabos de Cinquenta Tons de Cinza é esse: Você vira esquina e encontra "o livro da gravatinha" de novo, nas mãos de... Senhoras de idades, da tia da cantina, do porteiro do prédio, de uma menina de 14 anos, deus do céu, até dos seus pais! E pelo que você ~ouviu falar por aí~, este livro aborda... Bem, sexo. Explícito. Hardcore. Chicotes inclusos. Então eu te pergunto: Por que um fetiche tão restrito virou a curiosidade do momento? Bem, acho que agora eu tenho uma noção do porquê.
Se você ainda não teve a chance de ler nada sobre o enredo principal, deixa eu ajudar: Somos apresentados a Anastasia Steele, uma garota de 21 anos bem certinha; leitora assídua, desajeitada e com um currículo sexual de... Bem, ninguém. Ana é a caracterização perfeita da virgem de corpo e alma, sempre à espera do príncipe encantado que se encaixará nos seus altos padrões. Um dia, sua melhor amiga e colega de quarto Kate lhe pede um favor: Kate é a jornalista da faculdade e, com muita dificuldade, conseguiu marcar uma entrevista com o CEO (para os que não sabem, leia isso como o "manda-chuva") da poderosa multinacional Grey Enterprises Holding, Inc, a.k.a, Christian Grey. Porém, no dia do encontro, Kate adoece e acaba tendo que pedir para sua amiga substituí-la na entrevista. Ana, boazinha do jeito que é, decide ajudar Kate e vai para entrevista, crente que encontrará um velhote entediante e gaga. Só que Christian Grey está longe de cair dentro desses esteriótipos.
Christian Grey é jovem, bonito, hipnotizante, inteligente, intenso, misterioso, fechado, controlador. E sim, este último adjetivo merece um itálico. A história narra o romance entre Grey, um bilionário com um segredo escondido por trás de sua superfície perfeita e Ana, uma garota simples que não faz a menor ideia do que coisas como Bondage significa, e logo nós somos inseridos dentro deste universo sexual tão consumidor. Não há mentiras aqui; se você quer ler este livro, tenha em mente que ele é, em primeira e última instância, erótico. E quando falo erótico, não é algo levemente sensual. Estou falando de muito palavrão, desejos, conteúdo pesado e páginas e páginas descrevendo posições sexuais. Há amor? Há. Tem desenvolvimento da história? Hum, tem, mais ou menos. Mas repito: Se você não quer ler o livro pelo que ele, desde o começo, é - mommy porn (para os que não conhecem, a expressão americana significa, literalmente, "pornografia para mamães", algo como erotismo para mulheres) - Então nem chegue perto. Este livro é um guilty pleasure. Não o leve a sério.
Mas porque eu estou deixando isto tão claro? Bom, voltando a pergunta do primeiro parágrafo, há muita discussão sobre a forma como o fetiche do bondage é abordado na trama. Ana é, em várias partes do livro, sujeita a verdadeiras surras de Grey e a ideia de submissão da mulher ao homem é motivo de discussão durante todo o livro, algo que, você já deve imaginar, é alvo de críticas de vários grupos feministas e simpatizantes da causa. Há pessoas que até apontam uma espécie de estupro no livro, como se Ana tivesse sido "forçada" a se sujeitar a Grey, uma leitura que eu não compartilho, mas que não deixo de valorizar, exatamente pela dimensão que o livro parece estar gerando na sociedade. Quando um livro vira um best-seller (e não um best-seller modesto que apenas a capa do livro o denota assim, mas um sucesso visivelmente mundial), ele deixa de ser apenas uma obra de entretenimento e passa a ser um formador de opinião. Quando terminei o livro, conversei com uma amiga (a própria Patrícia do blog) e uma pergunta ficou vagando pela minha mente: Será que todo este sucesso fez bem a Cinquenta Tons de Cinza?
Honestamente, eu acho que toda essa exposição fez Fifty Shades of Grey ser encarado como algo aquém do que realmente é e isto prejudicou até as próprias pessoas que gostam deste tipo de leitura. Sem levar este romance a sério, me diverti bastante com sua história, não me entediando em nenhum momento e até, sim, descobrindo coisas sobre mim mesmo (como a autora tanto queria despertar em seus leitores) em relação a este assunto em particular. É um livro engraçado talvez pelos motivos errados (quero dizer, você vai perder a conta das vezes que Ana se refere a sua "deusa interior" e o quanto Grey parece obcecado com a droga da boca da guria. "Ana, você está mordendo sua boca" entra no Hall de "as frases mais repetidas em um mesmo livro" da história da literatura, sério!) e é inegável o quanto o livro anda em uma linha tênue entre a vergonha alheia e o satisfatoriamente divertido. Outra coisa complicada é o desenvolvimento da história, o qual a não ser que você realmente AME sexo com todas as letras, pode achar um pouco... Ok, devagar quase parando. É quase como se a história em si acontecesse nos intervalos do sexo, e o tal do romance só andasse na hora dos comerciais. Entretanto, ainda assim terminei o livro querendo ler Cinquenta Tons Mais Escuros e acho que isso significa que eu acabei encontrando prazer na coisa. "Ui, então Trinta... Foi bom para você?" Hahaha, duplo sentido à parte, fica aqui uma dica: Nunca esqueça que tudo na vida, no final das contas, é para lhe trazer prazer. Se isto lhe chama atenção, não tenha medo de dar uma chance.
Curiosidade à parte: Para os que não sabem, Cinquenta Tons de Cinza surgiu de uma fanfic (!) de Twilight. Este blog explica um pouco mais sobre isto.
Curiosidade à parte 2.0: Os direitos do livro já foram comprados por uma produtora de filmes. Matt Bomer está sendo cotado para viver Christian Grey. Voto do Trinta? Henry Cavill all the way! Quais são os seus palpites?
0 comentários: