Grande Irmão - Lionel Shriver, por Trinta.

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Quando um livro gira em torno de um tema como "obesidade", é comum que a opinião do autor acabe dividindo os leitores entre aqueles que se identificam com a sua perspectiva e aqueles que discordam completamente dela. Se você der uma rápida procurada pela web por mais opiniões sobre Grande Irmão, irá perceber que esse caso se encaixa perfeitamente. Como um dos livros com o feedback mais "8 ou 80" da autora, eu já fui me preparando para mais uma experiência "ame ou odeie". Eu já sabia que levaria o livro para um nível bem pessoal, principalmente com esse "elefante branco" que Lionel Shriver decidiu explorar nessa nova empreitada.


Em Grande Irmão, o drama da vez gira em torno dos irmãos Pandora e Edison, unidos pelos laços sanguíneos mas sempre com visões bem diferentes da vida. Pandora é uma mulher retraída e passiva, enquanto Edison, um talentoso pianista de jazz, tem a pompa de quem gosta de estar no centro das atenções. Apesar das divergências, ambos sempre foram muito próximos, principalmente quando se uniam para aturar os caprichos do pai, uma ex-estrela de televisão que nunca percebeu que seus anos de glória haviam acabado. Os anos se passaram e Pandora construiu sua própria ideia de felicidade: Casou-se com um homem seguro e imponente (Fletcher) e praticamente adotou seus dois filhos de outro casamento. Mas é quando Edison resolve fazer uma visita, após anos de viver viajando de um lado pro outro do mundo, que Pandora choca-se com a nova realidade do irmão. Edison pesava agora mais de 170 quilos e em nada lembrava o belo irmão de suas lembranças.

Como falei anteriormente, eu tive que levar Grande Irmão pro lado pessoal e o motivo é bem óbvio: eu mesmo lá tenho os meus (bons) quilinhos a mais. Sempre sofri com as dificuldades de ser gordo e, em muitos momentos do livro, senti um certo asco de Pandora pelos seus pensamentos ferrenhos em relação ao estado do irmão. A protagonista passeia por vários sentimentos ao lidar com o "grande problema" a sua frente: asco, pena, compaixão e até vergonha, e pra mim, todos esses agiram  como uma flecha atravessando o meu estômago.

Pandora é uma mulher racional e eu entendo sua vontade de ajudar o irmão, mas quando um livro trata da perspectiva de uma terceira pessoa ao invés da vítima em questão, não dá para não sentir uma certa raiva. Edison teve os seus motivos para ficar gordo (sem spoilers!) e lutar contra a vontade de comer exige uma força de vontade ESTUPIDAMENTE grande. Na minha opinião, é uma das batalhas mais árduas e mais longas que alguém pode enfrentar.

Fonte: The Catholic Catalogue

Acho que uma das coisas mais legais sobre Grande Irmão é como ele funciona praticamente como um livro de ficção bem informativo sobre o assunto. Só para ter uma ideia, a obra mostra os prós e contras das ditas "dietas radicais", os desafios de lidar com a obesidade no campo profissional, no ambiente familiar e, principalmente, com o seu principal inimigo: a auto-estima. Por mais que o final de Grande Irmão seja um belo susto para o leitor (e o principal motivo do fator love or hate que o livro carrega), a ousadia da autora acaba se tornando uma forte mensagem de apoio as pessoas que sofrem com a obesidade e suas respectivas famílias.

Para os fãs de um bom drama, Grande Irmão é mais do que uma boa pedida. Mas não se espante se acabar recebendo um soco de estômago aqui e ali, viu?

P.S: Grande Irmão foi escrito por Lionel Shriver como um desabafo da autora pelo relacionamento turbulento que teve com o seu próprio irmão, que também sofria com excesso de peso. É interessante saber essa notinha para entender como o assunto é tratado de forma bem pessoal para a escritora...




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