Boa noite, gente bonita!
Como vão vocês? Bem, espero. Como passaram as férias de julho? As minhas férias de julho acabaram há pouco mais de uma semana, pois, na verdade, começaram em agosto, portanto estou considerando que a mesma coisa aconteceu com todos vocês, ok? Ok. Hoje venho falar deste... clássico. Orange Is the New Black realmente parece estar se tornando the new black, não? Só se ouve falar nessa série! Mas calma: não é sobre a série que eu venho escrever hoje: é sobre o livro. Aliás, você sabia que a série é inspirada em um livro? Não? Então tá na hora de ficar sabendo. Vem comigo que eu te conto.
Antes de começar a resenha, gostaria de deixar claro que este texto não tem qualquer compromisso com a série original distribuída pela NetFlix. Conheço OITNB de nome, sim, mas nunca assisti a nenhum comercial, snippet, trailer ou qualquer coisa relacionada à série, portanto, caso você seja um espectador desta, esteja ciente de que o livro, assim como qualquer adaptação televisiva/cinematográfica, talvez (creio que “certamente” é mais preciso) apresente diferenças em relação ao que é exibido pela NetFlix, incluindo detalhes centrais da própria trama, certo?
Muito bem: vamos ao que interessa. Orange Is the New Black (“Laranja é o novo preto”, pra quem não lembra do Inglês da quinta série) é um livro de caráter autobiográfico da escritora americana Piper Kerman, que relata na obra sua experiência com o sistema prisional americano. O livro é distribuído, no Brasil, pela Editora Intrínseca, tem 304 páginas e foi traduzido por Cláudio Figueiredo e Lourdes Sette. Li a primeira edição, de março de 2014.
Bom, a trama. A personagem principal da história é a própria Piper Kerman, autora do livro. Piper começa a narrativa contando como foi parar atrás das grades. Durante sua juventude, Piper se envolve com uma glamorosa traficante de drogas (no livro, chamada de Nora. Kerman explica que mudou os nomes de quase todos os personagens na história, pra preservar suas identidades). Movida pela paixão, ela acaba se envolvendo no tráfico internacional de drogas ao servir como “avião” para a então namorada. Em virtude da profissão-perigo, Piper e Nora viajam por vários lugares e vivem altas aventuras, até que, em dado momento, se separam (já não me lembro o motivo) e cada uma segue seu rumo.
O tempo passa, Kerman está em um relacionamento sério com um homem chamado Larry e a vida segue tranquila, até que, um belo dia, a polícia encontra Kerman e ela é intimada a responder pela acusação de tráfico internacional de drogas. O passado, então, volta à tona e Kerman precisa enfrentar as consequências de seus atos. Passam-se dez anos, do momento da intimação até a prisão de Kerman de fato. Ela é julgada, condenada a 15 meses de reclusão e enviada ao presídio federal de Danbury, Connecticut, onde cumpre sua pena.
Danbury é o cenário principal da trama, mas existem outras duas instituições pelas quais Piper passa na segunda metade da história. Eu quase diria que isso é um spoiler, mas é um tanto quanto impossível dar spoilers sobre OITNB, porque o livro não é um romance; não existe uma sequência lógica de fatos. Na versão americana do livro, ele é categorizado como memoir (livro de memórias; autobiografia); no Brasil não deve ser muito diferente. Assim sendo, os eventos que Piper narra dentro da prisão são um registro de suas memórias, sem que haja uma sucessão crescente de eventos que leve a um grande desfecho.
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Kerman em 2014 (fonte) |
Esse é, na verdade, um dos pontos que me... como eu diria? Acho que me entediou um pouco. Não sei se seria questão de gosto pessoal meu ou se são os elementos da obra que levam a isso, mas, em OITNB, nada de extremamente empolgante acontece. Piper está presa, então não vai a nem volta de lugar nenhum. No livro tem de um tudo: tem coisa triste, coisa interessante, coisa engraçada, coisa dramática, um número inacompanhável de personagens, mas nenhum momento de grande movimentação ou clímax. Acabei demorando pra lê-lo por causa disso: os capítulos passam e a história literalmente não sai do lugar até a segunda metade da segunda metade, onde o processo de soltura de Kerman começa a acontecer. Algumas personagens, contudo, são bastante cativantes: a cozinheira Pop, a amiga de cubículo Natalie, o marido de Kerman, Larry, que é um mozão (aliás, eles são casados até hoje!)... Quando comecei a ler a história, sem quaisquer expectativas, imaginei que fosse algo no estilo do extinto Oz, que passava nas madrugada do SBT e eu ficava acordado até altas horas só pra ver o Beecher e o Keller, mas não passou nem perto, em nenhum quesito. A única semelhança é o cenário. Só.
Quanto à escrita do livro, não há muito o que comentar: a leitura é fácil, leve, fluida, com uns palavrões aqui e ali; bastante contemporâneo. Não sei avaliar a qualidade da tradução porque não li nem lerei o original, mas é tudo bastante claro. Quanto à editoração, três ressalvas: primeiro: a capa do livro é a exatamente a mesma imagem (uma das) de promoção da série da NetFlix. Não devo ter me manifestado quanto a isso por aqui em outras ocasiões, mas não sou muito fã desse tipo de “empréstimo”; fica parecendo que o livro e a série são a mesma coisa, e todos nós sabemos que não é bem assim. Segundo: encontrei diversos erros de revisão ao longo do texto; páginas 109, 134, 175, 183, 236, 247... Coisas como “outras mulheres tinha vindo” e “nada mais difícil na cadeia do ser mãe”. Nada que comprometa o entendimento do texto, mas, ainda assim, faltou um pouco de cuidado aí. E por fim: a pessoa que teve a ideia de colocar, na última página, os detalhes do miolo, incluindo a fonte utilizada, tem um pedaço do meu coração garantido, porque Deus sabe o quanto eu lutei pra descobrir que aquela fonte se chamava Bembo e o Capeta deve ter rido na minha cara quando eu descobri que essa informação constava na última página.
Enfim. Pra quem gosta de gêneros autobiográficos — o que talvez não seja exatamente o meu caso —, Orange Is the New Black é uma leitura válida. Não é nada que vá mudar a vida de ninguém, mas é curioso ver como funciona a vida dentro de uma prisão feminina e o sistema prisional dos Estados Unidos de modo geral. Eu mesmo confesso que fiquei um tanto surpreso ao ver que, ao contrário da imagem estereotípica que a maioria das pessoas têm, nem todas as mulheres lá dentro são sapatões caminhoneiras que estacionam uma Scania bitrem em qualquer vaga, não: existem mulheres de todos os tipos, todas as cores, todas as idades, todas as etnias e todos os caráteres.
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