Império Esquecido - Lorena Miyuki, por Natan.

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Muito boa noite!

E lá vamos nós, como sempre, falar de literatura depois de um bom tempo de sumiço. Mas, antes: como vão vocês? Tudo bem? Então tá bom. Nesta noite nublada de quinta-feira, resolvi criar vergonha na cútis e escrever esta resenha que está no forno há pelo menos uma semana. Tempo não faltou, faltou foi coragem, mesmo, porque a procrastinação, ela é meu sobrenome. Mas, criada a coragem que faltava e deixado o ócio de lado pelo tempo em que escrevo este lindo artigo, trago, hoje, a história de uma conhecida e colega de ~ramo~: Lorena Miyuki. E já explico por que somos colegas de ramo.

Quem me encontrou, na verdade, foi a Lorena, não o contrário. Se não me engano, ela estava zanzando pela seção gay do Clube de Autores e se deparou com meu primeiro livro, North Bound, que, se não me engano novamente, chamou a atenção dela pelo fato de a capa ser semelhante à capa de um outro trabalho dela, “Anistia”. Então ela me mandou um e-mail oferecendo divulgação no site dela, Marcado com Letras, e aí a gente começou a trocar figurinhas. Assim como eu, Lorena escreve sobre boys love, um termo que eu desconhecia e que, por óbvio, se refere a histórias de amor entre garotos/meninos/mancebos/rapazes/homens. Minha praia, pra quem (ainda) não sabe. Daí ela resenhou meu primeiro romance (você pode ler a resenha aqui) e eu, algum tempo depois, li Império Esquecido e fiquei de escrever a respeito, e é o que venho fazer agora, depois de muito muito enrolar.

Então vamox lá: Império Esquecido conta a história de dois operários da Usina Nuclear de Chernobyl: Ilya, um russo, e Anatoly, um ucraniano (não sei se sei pronunciar o nome de nenhum deles, mas leio o primeiro como ilhae o segundo como anátoli, que, na maior parte da história, aparece como simplesmente Ana). A narrativa se passa na cidade de Pripyat e começa no ano de 1983. Pripyat foi uma cidade fundada em 1970 especialmente para abrigar os trabalhadores da usina de Chernobyl, e lá Ilya coloca um anúncio no jornal procurando por alguém para dividir apartamento; aí entra Ana na história.

Pripyat (fonte: Wikipedia)
A história é dividida em duas partes e o que a divide é exatamente o acidente de Chernobyl, que faz com que todos os habitantes de Pripyat evacuem a cidade (Pripyat ainda hoje é uma cidade fantasma, como se vê na foto acima). A primeira parte é um pouco mais lenta e elabora o crescimento da relação entre Ilya e Ana, que é bem gradual mesmo e não tem muito segredo: dois caras dividindo um apartamento no frio da Ucrânia (aliás, o frio é um elemento muito importante e muito bem explorado na narrativa) e que, aos poucos, vão se apaixonando sem se dar conta. Os acontecimentos mais marcantes, eu diria, acontecem na segunda parte, no pós-acidente. Nesse momento a relação deles já está em estado bem adiantado, digamos. Nessa segunda parte, também, o foco narrativo sai da terceira pessoa e passa pra primeira, sendo Anatoly o narrador agora. Os problemas começam quando ele é chamado para ser um liquidador. Liquidadores eram os militares responsáveis por “limpar a bagunça” que o acidente deixou em Pripyat. O negócio é que a cidade estava cheia de radioatividade. Ainda assim, Anatoly vai, gerando uma série de conflitos com Ilya por causa dessa decisão.

Não dá pra contar muito sem dar spoilers, então vou parando por aí. Fazendo, agora, minhas considerações, Império Esquecido é uma história muito boa. Demora um pouco pra pegar no tranco, mas, quando pega, vai. Li em uma sentada, ou melhor: deitada só. E quando acabei fiquei meio coisado. Acho que o mais interessante de tudo é que a história é toda baseada em fatos. O acidente de Chernobyl existiu, é óbvio, mas a cidade de Pripyat também existiu, o apartamento em que Ilya e Anatoly viveram também, os liquidadores também existiram, o aviso de evacuação colocado na história é o aviso que realmente foi dado aos moradores da cidade, alguns personagens foram inspirados em pessoas que também estiveram envolvidas no acidente... No final do livro a Lorena coloca a relação completa de referências no mundo e eu achei isso muito legal.

Apesar de ser curta para um romance (menos de 19000 palavras), Império Esquecido é uma narrativa muito rica e uma verdadeira aula de história. A escrita flui bem e não é cansativa nem cheia de arroubos: é na medida — e digo isso porque, se tem coisa que me irrita em literatura, especialmente em escritores “amadores” (considerem-se as aspas), é aquele pessoal que escreve com o Priberam aberto no Firefox pra procurar palavras cult. Se você é essa pessoa, faça como a Lorena e como eu: não seja essa pessoa. Apesar de ser, essencialmente, um romance gay, a trama é mais do que só uma história de amor entre dois homens: é uma história de amor, ponto; e não me refiro ao amor romântico cheio de borboletas, arco-íris e altas doses de fofura, mas ao amor de carne e osso, o amor do dia-a-dia, que anda em falta na literatura contemporânea. 

Império Esquecido está à venda em formato EBook Kindle na Amazon e você pode comprá-lo clicando aqui. Tá baratinho e vale muito a pena. Você pode encontrar mais trabalhos da Lorena acessando o site dela, Marcado com Letras. Lá ela fala de literatura, cinema e coisas mil. [merchan](E não esquece que eu também tenho um blog onde posto uns textículos de vez em nunca. Clique aqui para acessar.)[/merchan]

E é isso. Espero que vocês leiam e gostem tanto quanto eu. Qualquer dia eu volto com outra história ou com outra qualquer coisa. A vida, ela tá dificílima, mas prometo que volto assim que ela der uma melhorada. Enquanto isso, sejam felizes; sempre irmãos, sempre unidos, sempre Brasil que nem Inês Brasil. Um beijinho de luz no coração de vocês e até a próxima. 


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