Atenção, marujos! Icem as velas e preparem-se para qualquer coisa! Os mares de Athelgard são belos, é claro, mas também podem ser traiçoeiros. Rezem para seu Herói e torçam para que piratas não apareçam por aqui, caso contrário estaremos perdidos. Não se esqueçam do saltimbanco! Aquele maldito consegue emocionar com suas canções. Sabem usar armas e magias? Nunca sabemos quando será necessário. Preparados? Vamos, então! Embarquemos nessa história cheia de aventuras! Vamos rumo a Ilha dos Ossos!
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fonte // eles são gatinhos né? |
Kieran chama a atenção do leitor desde a primeira frase. Sua personalidade é completamente diferente da de Anna de Bryke: enquanto a Mestra de Sagas é otimista e sonhadora, Kieran de Scyllix é sombrio e fechado. Sua vivência no mundo deu a ele uma visão realista das coisas (além de um pouco macabra). Desde o começo, o protagonista refere a si mesmo como alguém capaz de cometer maldades, mas isso não o torna um vilão. No primeiro livro, Anna o descreve de forma totalmente apaixonada - enquanto agora, ele é frio em relação a si mesmo: aponta suas próprias falhas, não para julgar-se, mas para mostrar que não é perfeito.
Ana Lúcia Merege mostrou maestria ao deixar "pingos" do passado do mago durante a sua narrativa em primeira pessoa. Kieran casualmente diz coisas como "fui capaz disso" e "já fiz aquilo", mas como algo passageiro, que não é do interesse geral: o foco deve estar na história que ele conta. Isso apenas apetece o leitor, que fica cada vez mais curioso para conhecer o personagem. Somos feitos dos olhos do mago, e isso é uma experiência encantadora, assustadora, um pouco triste, mas intensa ao extremo.
Kieran ao longo da história vai passando por diversos cenários e encontra vários outros figuras que servem como seus companheiros. Os personagens que aparecem são capazes de sustentar suas próprias histórias, deixando A Ilha dos Ossos mais realista. Somos, por exemplo, em determinado ponto do livro, apresentados a Ilya e seu filho Yegor, dois barqueiros que acompanham Kieran por um tempo. Eu simplesmente me apaixonei pelos dois - tão profundos que eram! E não apenas esses, o livro possui uma dezena de outros personagens completamente bem estruturados: como a figura de Stávro, o saltimbanco que derrete o coração do leitor, ou o Insaciável, que congela a alma. E, tendo um protagonista tão bom, não poderíamos esperar menos do antagonista, que me cativou completamente.
Os diálogos são naturais e complementam ainda mais os personagens apresentados. Pelas falas e expressões descritas, temos cenas de comédia em ambientes completamente inesperados e situações improváveis acontecem a todo instante.
A história é cheia de reviravoltas que tiram o fôlego do leitor a cada instante - o ritmo é ótimo, quase como o de um filme de ação. O roteiro dá curvas que nos deixam completamente pirados. Além disso, todo o arco de acontecimentos presentes em A Ilha dos Ossos está detalhadamente relacionado ao que rolou no ótimo O Castelo das Águias. Ana Lúcia Merege é mestra em criar desfechos impressionantes, e quem já soube disso pelo primeiro livro da saga, vai apenas assinar abaixo da minha afirmação.
É impossível falar de A Ilha dos Ossos sem falar de O Castelo das Águias. Tanto no primeiro, quanto no segundo volume, o leitor poderá ter vários tipos de interpretações da história: pois elas aguentam vários níveis de leitura. "Superficialmente", ambos os livros nos darão ótimas histórias que nos divertirão e emocionarão ao extremo. Porém, podemos nos aprofundar ainda mais: em O Castelo tivemos uma mensagem de espiritualidade e até mesmo meio ambiente; o livro também de certa forma mostrava a parte boazinha de Athelgard. Em A Ilha dos Ossos, somos alertados para os perigos que existem no mundo - e aqui entra a parte que nos fala que ninguém pode ser taxado de cara como bom ou mau, mas que devemos ter consciência de que ambas as qualidades existem - e que, às vezes, é bom desconfiar de algumas coisas.
A Ilha dos Ossos cumpriu seu papel: nos mostrou que Athelgard é maior do que pensávamos, e não tão bonzinho e colorido não. Personagens complexos e bem montados aliados à uma história coerente colocados em um ritmo cheio de aventuras sem fim, essa é a receita para a qualidade aqui apresentada. Somos pegos de surpresa, e temos a impressão de que passamos todo o tempo de leitura em mar aberto, sem saber o que pode acontecer.
O livro é ótimo, não apenas em qualidade de texto e história (que são arrebatadores), mas também em sua qualidade. A capa é muito bem desenhada, e ele é impresso em um papel resistente e bonito, além da ótima diagramação.
Essa é, assim como Castelo, uma leitura que ninguém se arrependerá. Athelgard se funda sob os pilares da literatura nacional, e se edifica cada vez mais nas mentes dos leitores ávidos, que, animados, descobrem que tudo é possível, e navegam na imaginação através dessas páginas de emoção e aventura.
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