Agora que as inscrições do Enem 2014 fecharam novamente, e no espírito literário em que eu frequentemente me encontro, ao invés de pensar sobre coisas úteis (como por exemplo: será que só pode levar barrinha de cereal se ela for preta ou transparente?) obviamente meu cérebro divagou para coisas mais literariamente especificas, tais como:
As 7 Semelhanças entre o Enem e os Jogos Vorazes.
(Alguém, em algum momento, iria fazer esse post. Acabou que foi eu. )
1) É uma competição mental, mas também física.
Muito mais do que apenas compreender textos e matérias, não, Harry, o vestibular não se passa apenas na sua mente. Ele obriga você a ficar horas com sua bunda sentada em uma cadeira ruim, usando roupas desconfortáveis e forçando sua vista para ler. Seu acesso a comida, água, banheiro e materiais é limitado (LÁPIS. VOCÊ NÃO PODE USAR LÁPIS). É um ambiente hostil não apenas para o seu cérebro, mas também para o seu corpo. Você tem que se preparar para isso, além da própria prova.
2) Ele é feito pelo governo, e há toda essa propaganda de "Coisa Certa" a respeito dele, mesmo que todo mundo saiba que não é bem assim...
Sejamos sinceros agora: Você sabe que o Brasil é um país corrupto que rouba dinheiro público que deveria estar indo para a educação, criando mais universidades, pagando bem os professores e dando oportunidades de estudo para todo mundo.
Você sabe que isso não acontece, e eu sei, e o governo sabe, mas mesmo assim você vai ter que aguentar propaganda do governo da tevê com atores sorrindo pra tela e dizendo como o Enem mudou a vida deles e como o Governo é maravilhoso-por-dar-essa-oportunidade. (esquecendo de mencionar que você paga o maior imposto do mundo, e deveria ter acesso a uma boa educação simplesmente para servir ao seu país de forma produtiva sendo qualificado para o mercado de trabalho. Tipo, detalhes.)
O que nos leva a próxima semelhança;
3) Se você tem mais dinheiro, você tem geralmente mais chances de ir bem.
Não apenas o Enem, mas todo vestibular é meio elitista. Elitista porque você tem muito mais chances de ir bem nele se tiver tido uma boa educação e preparo, o que geralmente vem de cursinhos preparatórios e escolas particulares, e de pessoas que tem condições financeiras para estudar a maior parte do tempo. Sim, existem cotas, mas é incontestável que existe poucas coisas mais próximas de um carreirista do que alguém que faz cursinho pra medicina.
4) Você está competindo com pessoas. Quando alguém vai mal, é bom para você, e quando você vai mal é bom pra alguém.
Ninguém morre especificamente, mas sonhos e futuros morrem o tempo todo =(
E em vez de odiar o governo que não abre mais universidades, os alunos acabam odiando uns aos outros. Ou odiando colegas asiáticos que fazem o Poliedro. (eu não te odeio, Watanabe... Mas é só porque eu não to prestando exatas)
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... e ela fez Intensivo. No Poliedro. NO POLIEDRO!!1 |
Sim, você pode optar por não fazer vestibulares. Mas mais ou menos. Porque ao optar por não fazer parte do sistema, você acaba limitando seu acesso a educação e a empregos e a um futuro melhor. Mesmo que você não acredite nos vestibulares, para fazer parte do mercado de trabalho e ter uma vida acadêmica além do ensino médio você precisa aderir a ele e tentar jogar com as suas regras. É como o sistema de Tésseras: Você não é obrigado, mas meio que é.
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...okay maybe they do. |
6)... Mas eles não sabem bem o que estão fazendo?
Nos Jogos Vorazes, se você optar por comer amoras, vai desencadear um monte de decisões impulsivas da parte dos organizadores. Já no Enem, todo ano tem sempre aquelas pessoas que aparentemente tiraram nota máxima na redação escrevendo receita de bolo.
E você sabia que sua nota é melhor acertando questões fáceis do que questões difíceis? Porque se você erra as fáceis e acerta as difíceis, o vestibular considera que você chutou e diminui seus pontos. Porque pra ele, a forma extraordinária como seu cérebro funciona quando você erra coisas básicas e ainda sim tem talentos avançados não existe.
Expandindo nossa database de livros, já dá pra saber quais dos brilhantes detetives da ficção literária não passaria no Enem. Segue abaixo o trecho em que se explica a A Teoria do Sótão-Cérebro do Sherlock Holmes.
"Que um ser humano civilizado não soubesse que a Terra se movia ao redor do Sol, era pra mim um fato tão extraordinário que mal podia compreendê-lo.
– Veja – explicou Sherlock –, acho que o cérebro do homem é originalmente como um pequeno sótão vazio, que temos que abastecer com a mobília que escolhemos. Um tolo pega todo e qualquer traste velho que encontra no caminho, de modo que o conhecimento que poderia lhe ser útil fica de fora por falta de espaço ou, na melhor das hipóteses, acaba misturado com uma porção de outras coisas, o que dificulta o seu possível emprego. Mas o trabalhador de talento é muito cuidadoso a respeito do que coloca no seu sótão-cérebro. Só acolhe as ferramentas que podem ajudá-lo a realizar seu trabalho, mas dessas ferramentas ele tem uma enorme coleção, e tudo disposto na mais perfeita ordem. É um erro pensar que o pequeno quarto tem paredes elásticas e pode se distender em qualquer dimensão. Acredite, chega uma época em que para cada novo conhecimento é preciso esquecer alguma coisa que se conhecia antes. É da maior importância, portanto, não ter fatos inúteis empurrando para fora os úteis.
– Mas o sistema solar! – protestei.
– Que me importa? – interrompeu impacientemente. – Você diz que giramos ao redor do Sol. Se girássemos ao redor da Lua, não faria a menor diferença para mim ou para o meu trabalho."
Não faria diferença pra você resolver os maiores e mais misteriosos crimes do mundo, mas faria diferença pra você passar no Enem, Sherlock.
E, para terminar:
7) Mesmo quando você ganha, há uma chance de que você tenha que fazer tudo de novo ano que vem.
Sim, você foi bem no Enem... em 2008! Você ai achando que ia poder usar sua nota pro resto da vida, mas o Enem tem validade e se você quiser qualquer coisa envolvendo ele, nem que seja um programa de bolsa de estudos, você vai ter que refazer. E ir bem de novo. Ha.
Nos Jogos Vorazes, se você optar por comer amoras, vai desencadear um monte de decisões impulsivas da parte dos organizadores. Já no Enem, todo ano tem sempre aquelas pessoas que aparentemente tiraram nota máxima na redação escrevendo receita de bolo.
E você sabia que sua nota é melhor acertando questões fáceis do que questões difíceis? Porque se você erra as fáceis e acerta as difíceis, o vestibular considera que você chutou e diminui seus pontos. Porque pra ele, a forma extraordinária como seu cérebro funciona quando você erra coisas básicas e ainda sim tem talentos avançados não existe.
Expandindo nossa database de livros, já dá pra saber quais dos brilhantes detetives da ficção literária não passaria no Enem. Segue abaixo o trecho em que se explica a A Teoria do Sótão-Cérebro do Sherlock Holmes.
"Que um ser humano civilizado não soubesse que a Terra se movia ao redor do Sol, era pra mim um fato tão extraordinário que mal podia compreendê-lo.
– Veja – explicou Sherlock –, acho que o cérebro do homem é originalmente como um pequeno sótão vazio, que temos que abastecer com a mobília que escolhemos. Um tolo pega todo e qualquer traste velho que encontra no caminho, de modo que o conhecimento que poderia lhe ser útil fica de fora por falta de espaço ou, na melhor das hipóteses, acaba misturado com uma porção de outras coisas, o que dificulta o seu possível emprego. Mas o trabalhador de talento é muito cuidadoso a respeito do que coloca no seu sótão-cérebro. Só acolhe as ferramentas que podem ajudá-lo a realizar seu trabalho, mas dessas ferramentas ele tem uma enorme coleção, e tudo disposto na mais perfeita ordem. É um erro pensar que o pequeno quarto tem paredes elásticas e pode se distender em qualquer dimensão. Acredite, chega uma época em que para cada novo conhecimento é preciso esquecer alguma coisa que se conhecia antes. É da maior importância, portanto, não ter fatos inúteis empurrando para fora os úteis.
– Mas o sistema solar! – protestei.
– Que me importa? – interrompeu impacientemente. – Você diz que giramos ao redor do Sol. Se girássemos ao redor da Lua, não faria a menor diferença para mim ou para o meu trabalho."
Não faria diferença pra você resolver os maiores e mais misteriosos crimes do mundo, mas faria diferença pra você passar no Enem, Sherlock.
E, para terminar:
7) Mesmo quando você ganha, há uma chance de que você tenha que fazer tudo de novo ano que vem.
Sim, você foi bem no Enem... em 2008! Você ai achando que ia poder usar sua nota pro resto da vida, mas o Enem tem validade e se você quiser qualquer coisa envolvendo ele, nem que seja um programa de bolsa de estudos, você vai ter que refazer. E ir bem de novo. Ha.
E como eu termino esse post? Não há outra forma de terminar, se não desejando um...
Feliz Enem. E e que a relação candidato vaga esteja sempre a seu favor!

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