O Choro da Donzela - Parte 2, por Laísa.

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Surpresa! Para comemorar mais um lançamento online da Laísa, ainda hoje temos aqui no EL a segunda parte do conto "O Choro da Donzela"! Eita que hoje tá sendo uma quinta-feira especial... Não é preciso dizer o quanto estávamos esperando o final deste belíssimo conto de fantasia, não é? 

Se você ainda não leu a primeira parte, clique aqui. 





A sua frente, diante do arco da janela, planava no ar um dragão medonho. Suas escamas eram escuras como musgos. A cabeça parecia ser de um grande lagarto. Espinhos brotavam de sua coluna vertebral e suas narinas cuspiam fumaça. Sentada no seu dorso, estava uma bruxa, que sem cerimônia pulou do dorso do dragão e num salto entrou no quarto da donzela.

A bruxa tinha uma estatura mediana. Seu corpo era entroncado, fazendo-a ficar menor com seu manto negro. Seus cabelos grossos e emaranhados tinham um tom de púrpura. Os olhos eram cinza e frios como uma manhã nublada. E no seu rosto enrugado estava estampada a malícia.

- Quem é a senhora?! – perguntou a donzela, pasma.

- Eu?? – A bruxa olhou ao redor com seus grandes olhos astutos. – Eu sou a Dama da Má Sorte! Aquela que rouba os sonhos e traz infelicidades. Seco um coração apaixonado até a última gota e arranco à força o último ecoar do sorriso de uma criança! Agouro é o que espalho por onde quer que eu vá. E assim, tenho uma vida longa, pois me alimento da felicidade alheia. – Ela deu uma gargalhada maldosa.

A donzela percebeu que estava em perigo.

- Tu és uma tola, minha jovem! – zombou a bruxa. – Andas confidenciando teus segredos para quem não tem ouvidos para ouvir e nem olhos para ver! Tua voz delicadamente suja e cheia de ilusões atiçou meus sentidos e aqui estou. Vim tirar o véu da mentira que cobre teus olhos e a esperança falsa que mora no teu coração. – disse a velha, num tom ameaçador.

- O que quer dizer com isso? – insistiu a jovem.

- Quero dizer que teu coração secará até virar um cristal quebradiço, pois neste mundo não existe e nunca existirá alguém capaz de amar-te. Nunca sentirás o doce bálsamo de um beijo apaixonado. E nem verás um olhar cheio de amor sincero! A solidão será tua única companhia até que teu coração pereça na espera de um amor que nunca existirá!

E nisso, a bruxa soltou uma gargalhada medonha e agourenta, sumindo numa fumaça verde. A donzela correu até a janela e viu sua má sorte praguejar no dorso do dragão noite afora. A voz da bruxa parecia reverberar por toda a floresta, deixando os animais irrequietos e assustados.

A donzela sentiu uma dor no coração como se um punhal tivesse encravado no seu peito. Apertou-o, ofegante num desespero insuportável. O medo tomou o brilho dos seus olhos que antes eram alegres e sonhadores. Seu rosto ficara pálido e uma lágrima escorregou por sua face alva.

A moça encostou-se à amurada da janela e já sem forças deixou-se cair ali. Sentada na única janela alta da torre solitária, ela chorou, chorou olhando para a Lua. Chorou até suas lágrimas secarem e o último pulsar do coração vibrar. Chorou até o último suspiro silenciar no seu peito e o amor pelo príncipe desconhecido morrer na calada da noite.

E foi do choro desiludido da donzela que nasceram as estrelas. Pois cada lágrima que caiu dos seus olhos virara um pontinho de cristal que salpicou o céu, consolando até hoje, os corações daqueles que ainda não amaram.

Fim.



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