Carrie, A Estranha - Stephen King, por Trinta.

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Milhões de referências no cinema americano comprovam: O que a história de Carrie tem de estranha, também tem de famosa. Você conhece essa sinopse. O maior alvo de chacota do colégio recebe um inesperado convite do queridinho da sala para o baile de formatura. Criada sobre as asas de uma católica fervorosa, Carrie foge das rédeas de sua mãe por uma noite para poder, assim, se entregar aquele que seria o momento mais feliz de sua vida. Ela teria um grupo de amigos, um namorado decente... Seria uma garota normal. A inocência de seus atos lhe impede de ver o triste destino que lhe espera: Um banho de sangue de porco no meio de sua "suposta" coroação como rainha do baile. Humilhada, exposta, sozinha. Mas entre as risadas cruéis de todo o salão,  uma nova Carrie nasce. Ícone do terror contemporâneo, Carietta White virou um exemplo cruel de repressão religiosa e do bullying adolescente nos contornos sobrenaturais do mestre do terror, Stephen King.

Este foi o primeiro livro que li do autor - coincidentemente, também é o seu conto de estréia -  e como em toda boa apresentação, sinto que devo abrir um pequeno parênteses para falar um pouco de como foi conhecê-lo. Certo, vamos ver, o King... É um cara seco. Tipo areia do deserto. Se eu pudesse o ouvir lendo em voz alta o seu próprio livro, tenho certeza que, em meu cenário utópico, ele o narraria com um ritmo lento e àspero, em um tom de voz meio Severus Snape. A forma como relata os fatos tem uma certa minúcia quase jornalistica, tanto é que a história é contada essencialmente por matérias de jornais e depoimentos dos envolvidos. Talvez esta tenha sido a grande sacada do livro: Torná-lo uma espécie de documentário típico de um canal de bizarrices da tv a cabo.  É como me disse uma vez uma amiga: "O grande dom de King é transformar coisas inofensivas (e até bestas, às vezes) em um trauma arrebatador". E se é que posso considerar o escolhido da vez como um tema bobo - Já que eu sempre tive fraqueza por este assunto -  a verdade é que a flechada atingiu o meu alvo. 

Acredito que muita gente pense que este livro é uma espécie de draminha adolescente um tanto trágico demais, um engano compreensível, exceto que, ainda assim, é um ENGANO. Esta história não é triste e contida... Ela MACHUCA. Fere. Joga sal na ferida com limão, spray de pimenta e ácido sulfúrico. Se há um motivo para este livro ter sido proibido em muitas escolas dos Estados Unidos é pela forma de sua crítica ao bullying; tão agressiva quanto aqueles que o praticam. O livro tem dois atos: Um inicial, um pouco mais voltado para o que levou a "grande noite" acontecer... E o Segundo Ato. Que eu não posso descrever mais do que... Caótico.

Carrie foi o primeiro livro voltado para este gênero que li e acho que não poderia ter escolhido um melhor para isto. Por maior que seja contraditório, eu sou um medroso que ADORA terror - Seja filme, seja livro, seja tudo! - e mesmo técnica de King parecendo um pouco crua demais no começo, esta caracter;istica é feita sob medida. Se você quer saber minha opinião, só para se preparar um pouco melhor para o te espera ao encarar esta obra, aqui vai uma dica: Não pule a introdução. Através dela, Stephen conta como teve a inspiração para o livro, e nada ilustra melhor o feeling da trama do que o seguinte trecho:

"Eu não tinha escrito nem duas páginas, quando meus próprios fantasmas começaram a me interromper: Os fantasmas de duas meninas, ambas falecidas, que acabaram se fundindo e dando Carrie White. Não chamarei nenhuma delas pelo nome verdadeiro aqui; elas foram infelizes em vida e não merecem ser discutidas, mesmo numa humilde introdução como esta, depois de mortas. "





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3 comentários:

  1. Eu me lembro de ter lido contos do Stephen King esse ano, eu queria achar outros mais famosos na biblioteca mas eu só achei um livro de contos, a forma como ele descreve as coisas é tão sinestesica que você até sente cheiros e o peso do ar do cenário que ele descreve, não sei se Carrie foi assim mas é como se você tivesse visto as cenas do livro em um pesadelo que você não consegue esquecer. Não vou dizer que foi um livro brilhante porque foi afinal um livro de contos (eu prefiro livros que se focam em uma história, na maioria dos casos), mas eu tenho essa certeza (igual a que eu tinha com a obra de Tolkien) que mesmo que não seja agora, eu vou esbarrar com o senhor King em algum momento, eu vejo os livros dele no meu futuro (ohh). Amei seu texto Risoto!

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  2. Oi, Trinta!
    Minha vontade de ler algo do Stephen King é enorme! Mas sempre fiquei na dúvida por qual começar e sua dica foi ótima, acho que vou começar por Carrie. Assisti uma parte do filme e, mesmo sabendo que não vai ser da mesma qualidade e intensidade da obra original, percebi que não se tratava de um simples assunto polêmico entre os jovens. Acredito que o que sua amiga falou se aplica de forma perfeita à essa história.
    Ótima dica e um ponta pé inicial para quem quer começar a ler King :)

    Beijos,
    Bianca - www.epilogosefinais.co.cc

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  3. Nossa, Rafa! Seu lindo, haha, abri um sorriso de orelha a orelha por te ver elogiando um dos meus escritores favoritos, muito embora o contexto não seja nada alegre.
    Concordo com tudo e assino embaixo, conseguiu descrever exatamente a sensação. King é um autor muito perturbador, psicológico, dá medo só de olhar pra criatura!

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