Boa tarde, gentes
Tudo bem? Então tá bom. Como vai essa vida? Tudo nos conformes, como sempre? Aqui também, tirando o sono etc. Esse negócio de entrar de férias e trocar o dia pela noite é complicado, porque depois pra regular o relógio biológico de novo é um parto. Mas vamo seguindo, vamo fazendo.
Pessoal, hoje venho a este site de família trazer um jogo que descobri recentemente e, olha, fiquei de. queixo. caído. com a história. Vamos cortar o papo introdutório e ir direto pro que interessa.
Essa expressão, traduzida livremente como “a mulher dos gatos”, é utilizada pra falar daquelas mulheres que, por um motivo qualquer, acumulam gatos em casa e acabam ficando conhecidas como “a mulher dos gatos”. No jogo, não é exatamenteassim que isso acontece, mas a personagem principal, Susan Ashworth, alimenta gatos das redondezas e eles acabam meio que fazendo parte da vida dela. Mas o papel dos gatos na história é mínimo, o que importa mesmo é o background e tudo.
Susan é uma mulher extremamente solitária e o jogo começa com uma nota de suicídio. Da própria Susan. Ou seja: o jogo começa com ela... morta. Achei estranhíssimo quando percebi isso, mas, na nota, Susan explica que decidiu dar cabo da própria vida porque já não tinha mais motivos pra viver, porque ela não lidava bem com pessoas e por isso era hora de morrer. Então ela toma algumas dezenas de tarja preta e puft, morre. O problema é que ela não moooorre morre mesmo, de morte morrida: ela vai parar em um lugar que é como um limbo, um entre-céu-e-inferno, e, nesse lugar, ela encontra uma mulher; uma velha que se auto-intitula “A Rainha dos Vermes”. Essa velha não se revela nem como Deus, nem como o diabo, nem como a personificação de um sentimento nem nada: ela só diz que o que se encaixa melhor é Rainha dos Vermes. E, nesse mundo em que elas estão, que parece um campo de centeio (sdds Catcher in the Rye), Susan encontra o próprio cadáver em diversos lugares e começa a se questionar que lugar é aquele e se ela está realmente morta. Então a velha diz que sim e blá blá blá (o jogo tem MUITOS diálogos; todos enormes) e que Susan está ali porque a velha tem uma missão a ela: voltar ao mundo dos vivos e matar cinco pessoas, cinco vermesque não merecem estar vivos, e que Susan é a única que pode fazer isso.
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Susan Ashworth |
O jogo foi produzido de forma independente, não sei se já comentei. O formato é um tanto estranho: acontece em 2D, no estilo sidescroller, tipo Mario, e tudo funciona na base da resolução de puzzles. Por exemplo: Susan está no hospital e precisa dar um jeito de sair; então ela precisa convencer uma interna a trocar de pulseira com ela, pegar o prontuário dessa interna — não sem antes, claro, dar um jeito de tirar a recepcionista do balcão pra poder pegar esse documento na surdina — mostrar os documentos aos seguranças pra eles liberarem a passagem e, só depois de resolver isso tudo, fugir dali. Os puzzles são MUITO difíceis, às vezes, porque eles não dão dicas de nada: quem não tiver bons neurônios se perde facilmente. A ambientação do jogo é, na maior parte, preto e branco, com gráficos bem rústicos e realce de cores importantes, como vermelho, já que o jogo tem sangue por toda parte. E a trilha sonora também é um espetáculo à parte.
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"The River" |
Mas o que mais me chamou atenção no jogo, e é a parte que justifica transformá-lo num livro, são duas coisas: primeiro, a ambientação impecável. Chove na maior parte do tempo, a solidão de Susan é quase tangível, o prédio em que ela mora também é praticamente um edifício-pós-apocalíptico, essa simbologia que envolve gatos... Tudo tem um quê de gótico que eu acho que Poe traduziria muito bem. Falando nele, em alguns momentos o jogo me lembra A Queda da Casa de Usher e todo aquele ambiente sombrio da casa. Também associei a Alegria Breve (livro que já comentei aqui), de Vergílio Ferreira, em que o protagonista está completamente sozinho em um vilarejo, acompanhado apenas de seu cachorro Médor. E a segunda coisa que me chamou atenção: os diálogos. Quem escreveu esses diálogos (que são longos e muitos) tem minha estrelinha de fã. A linguagem é simples, tem até bastantes “fucking”, “bitch” e outros termos chulos inclusos, mas é um texto muito rico, natural. Acho que construir um diálogo verossímil, maduro, que não soe robótico ou artificial é uma parte difícil da construção de um texto, seja ele literário ou não, e por isso digo que o responsável pelo texto do jogo (que renderia um livro só pela extensão) está ó, de parabéns. E tem, ainda, a coisa do Realismo Fantástico: não dá pra saber se o que passa na mente da Susan é simplesmente coisa da cabeça dela, ou se foi uma representação mental da realidade, ou se foi um sonho, ou se a Rainha dos Vermes realmente existe... Fica tudo dúbio em alguns aspectos. Pra quem quiser saber mais sobre Realismo Fantástico, escrevi aqui no site, também, sobre Astrícia, uma obra brasileira que aborda o fantástico de forma bem interessante.
River
(Agnieszka Surygala)
Standing by the river I wonder,
do I need a stone?
No...my heart is heavy enough.
It will drag me down for sure.
Standing by the river I smile,
will I miss it all?
No...I'll be glad to leave it behind,
and never come back.
Standing by the river I close my eyes.
One jump and I'm there.
No...someone jumped after me.
He will never be my friend.
Standing by the river I'm thinking,
will I jump again?
No...behind the closed doors
I have fallen in love with the razor
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