Escolhendo Livros do jeito que você não deve - Moranthology e Pequena Abelha.

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E então, Patrícia, o que você cresceu ouvindo que não era pra fazer mesmo? Ah é, não julgar o livro pela capa. E o que você faz? Você cria um quadro no seu site de livros só pra fazer isso.

Funciona assim: Cada um dos dois (Patrícia e Trinta) escolhe um livro que leu, mas sabe que o outro não leu (e nem faz ideia do que se trata). Trocamos as capas dos livros e, só com ela, tentamos adivinhar a sinopse. Depois do monte de achismos cômicos (porque é claro que vai ser), cada um escreve sobre o real conteúdo do livro que escolheu.

Livro que a Patrícia escolheu pro Trinta adivinhar:



Pela capa, o Trinta acha que a sinopse do livro é...
"Para receber o seu diploma de Literatura Inglesa na faculdade comunitária de Arizona Hills, Farah Denver precisa entregar um projeto de monografia o mais rápido possível. Apesar da ajuda de suas amigas Tracy e Lianne, Farah sempre acaba tendo ideias mirabolantes demais para cair nas graças de seu instrutor ranzinza, Mr.Wrinkles, um professor conservador que só aceita projetos com influências neoclassicistas. Mas é quando Farah sai de noite para uma breve caminhada que ela descobre na vitrine de uma doceria os cupcakes de morango que mudariam seu futuro. Para muitos (ou todos) aquilo não fazia nenhum sentido, mas para Farah, Morantologiaseria um novo conceito de estudo para a arte de estudar morangos e sua produção em massa para suprir o novo mercado de cupcakes hipsters. Será que nossa querida protagonista irá conseguir convencer a bancada de seus ideais... frutíferos?"
Patrícia falando sobre o que realmente é o livro:
Ideais frutíferos. Tá ai, por que não? Tanto livro de romance café com leite sendo escrito todos os dias, por que não um livro sobre ir estudar morangos do nada só pra passar num tcc? Aprovo altamente a utilidade dessa história no mercado atual que só sabe falar de cupcake, mas não sabe falar dos ingredientes que vão nele. (Tá achando que morango nasce em árvore?)

Quem aprovaria também é a jornalista feminista britânica Caitlin Moran, que certamente curte um cupcake (ou talvez doze). Ela de fato escreveu Moranthology, que não é sobre morangos, nem é um livro de ficção. (Mas deve ter algo sobre alguém chamado Mr.Wrinkles, isso eu não descarto em nenhum livro)

 Moranthology é uma compilação de artigos escritos por Moran no jornal britânico The Times ao longo de vários anos (ela incrivelmente escreve desde os 13, publicada). Os temas são: todos os assuntos possíveis. Tv, livros, cultura, filmes, feminismo, política, sua vida pessoal (dentre outras coisas, como foi crescer em uma família muito pobre vivendo de benefícios no conservador governo da Thatcher) e a vida de pessoas públicas (ela faz várias entrevistas, todas escritas de uma forma muito descritiva, calorosa, entusiasmada e poética como se fosse, de fato, um livro por si só).

A constante em todos os artigos são sempre as ideias feministas e o senso de humor, e o senso de humor de novo (porque é tanto humor que ocupa duas tags de descrição). É humor do tipo que se você pega, boa sorte. Porque eu, por exemplo, parava no meio do livro a cada meia hora porque meu maxilar doía e precisava repousar. Eu queria um Moranthology pra carregar por aí como um kit de primeiros socorros. Eu cheguei ao ponto de desejar muito uma assinatura online do The times, só pra poder ler os possíveis um milhão de artigos que ela já escreveu (Moran escreve por volta de um artigo por semana, desde 92. Façam as contas se você for o tipo de pessoa que liga).

Se assinar o jornal não é possível (cancelamentos são por telefone, e estranhamente meu bônus da vivo não cobre ligação pro Reino Unido), Moranthology surgiu pra salvar minha vida! (Não, mas quase)

Recomendo também o outro livro que ela escreveu, sobre feminismo, chamado How to be a woman (Como Ser Mulher - Um Divertido Manifesto Feminista, publicado no Brasil pela Editora Paralela). Se você sabe inglês, leia em inglês. Tenho minhas dúvidas se é um senso de humor que traduz bem, mas se não sabe, leia em português mesmo. Especialmente recomendado se você acha que o feminismo podia ser mais legal - amiga, não fica mais legal do que isso, pelo menos que eu saiba. Mais legal só se o livro viesse com um bolo atachado (de morango, talvez?).

Livro que o Trinta escolheu pra Patrícia adivinhar:

 Pela capa, a Patrícia acha que a sinopse do livro é...
O livro é um whodoneit! “Bee Belawa é uma detetive obrigada a se afastar do posto por estar com transtorno de estresse pós-traumático após um sequestro horrível que sofreu durante a resolução de um crime. Aconselhada a procurar outra ocupação, algo zen e sem estresse, Bee sente que perdeu a sua verdadeira função no mundo, até o dia em que se depara com um antigo livro de cultura de abelhas e produção de mel que pertencia a sua mãe (que a chamava de Abelinha quando Bee era criança). No começo, Bee percebe que possui um novo talento e simplesmente decide abrir uma loja natural de produtos de mel, mas ao progredir nas páginas do livro percebe que este é muito mais do que apenas um guia para fazer pão de mel... e sim um segredo de família. Bee descobre que abelhas são muito mais inteligentes do que ela imagina, e a detetive dentro de si começa a se manifestar novamente utilizando as abelhas para... resolver crimes! Afinal, quem melhor do que uma abelha para espiar o mundo do crime sem ser notada?”

Trinta falando sobre o que realmente é o livro:
Ok, Patrícia, parabéns. Você acaba de conseguir fazer a história original de Chris Cleave soar menos atrativa em comparação com esta relíquia que você criou em um parágrafo! Como não existe um whodoneit assim no mundo editorial? Primeiro que a história de uma detetive aposentada que vira dona de uma loja de mel e redinhas de capturar abelhas (Quero dizer, eu sou meio acéfalo quanto a equipamentos de abelhas) pre-ci-saser contada. Segundo que eu quero saber como as abelhas podem resolver casos. Talvez o termo “pessoa abelhuda” ganhe mais sentido depois de uma zapeada por esta versão alternativa de Pequena Abelha.

Mas se você quer saber, minha amiga escolhedora, a ideia de Chris Cleave ao pensar em uma capa para Little Bee sempre foi criar este mistério em torno do enredo. A sinopse disponível na contra-capa do romance propositalmente não fala nada sobre sua trama, obrigando o leitor a ler o livro sem nenhum preconceito ou expectativa. Na verdade, Pequena Abelha fala sobre duas mulheres  que tem suas vidas entrelaçadas: Sarah, uma jornalista britânica bem-sucedida e a Pequena Abelha, uma garota nigeriana que fugiu de seu país a procura de asilo político na Inglaterra. E como sou boa gente, pode ter certeza que não vou contar mais do que isso. Nunca li um livro tão amargo quanto Little Bee, principalmente por se tratar de uma crítica sócio-econômica tão interessante.

Em breve, mais livros na sessão Escolhendo Livros do jeito que você não deve!



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