Admito: Faz tempo que eu não falo sobre um livro nacional por aqui. Poderia até listar alguns motivos tolos, mas a verdade é que eu ando sem tempo para ler. Para remendar isso, trouxe hoje uma verdadeira relíquia da literatura contemporânea; um romance curto, gostoso e saudoso que tive o prazer de conhecer em minhas zapeadas pela internet. Os fãs do consolidado estilo literário "boy-meets-girl" podem até pensar que isso é fruto de Nicholas Sparks, mas sinceramente? É com a tempestuosa Lavínia que eu tive a certeza que uma pessoa realmente pode mudar a vida de alguém da água pro vinho e do vinho para o sangue. E tem gente que ainda chama isso de amor.
Sem mais delongas, apresento a vocês Cauby, um fotógrafo itinerante, cheio de experiências e aventuras para contar. Entretanto, Cauby nos revela que nenhuma de suas aventuras se compara as suas lembranças de Lavínia, a mulher de um pastor evangélico que conheceu em uma cidadela no interior do Pará. Lavínia é uma mulher ácida, quente, bipolar, complicada e irresistível, dona de um poder de atração que conquistou a luxúria de Cauby e desintegrou a fé do pastor Ernani. Aos poucos vamos conhecendo com mais profundidade o passado desses três personagens, em uma narrativa emotiva que facilmente consegue tirar algumas lágrimas dos olhos.
Digo isso porque não foi difícil para mim entender a paixão avassaladora de Cauby por Lavínia. Apesar de ser uma mulher de lua, Lavínia possui bons motivos para sua instabilidade. Muitas vezes, me perguntei durante o romance porque ela nunca parecia estar satisfeita, afinal, como um ex-garota de programa, Lavínia era agora mulher de um cara de posses, um homem bondoso que lhe daria até as estrelas se ela pedisse com jeitinho. Mas a verdade é que as coisas são sempre - seja na literatura ou na vida real - muito mais complicadas do que aparentam e o autor soube muito bem explicar esse velho mantra. Seja pelo olhos de Cauby por Lavínia, Lavínia pelo Pastor Ernani, Ernani por Lavínia ou Cauby por Ernani, não há dúvidas que o amor, às vezes, é inexplicável e doentio.
Ao lado dessa rede de intrigas, Marçal Aquino inseriu uma boa dose de personagens secundários interessantes, capazes de equilibrar a história com humor, drama e romance na medida certa. Um exemplo é o melhor amigo de Cauby, Viktor Laurence, um homem culto e dissimulado que inspira uma série de comentários cômicos do autor no meio da narrativa. A história de Seu Altino e seu eterno amor platônico também nos absorve pra dentro do livro, principalmente pela sagacidade de Aquino em brincar com as palavras e metáforas (Será que dá para ser o amor da vida de um amor platônico?) E como se ainda não fosse o suficiente, Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios carrega um trunfo que eu, honestamente, não esperava: Os twists. O ritmo da narrativa é recheado de reviravoltas muito bem trabalhadas, uma característica que torna a leitura ainda mais voraz.
Para quem não sabe, o livro teve sim um filme produzido em 2011 - Uma adaptação que colocou Camila Pitanga como a sensual Lavínia (uma escolha, na minha opinião, sábia). Mas serei bem franco - Não ousem ver o filme primeiro que o livro. Boa parte da história foi cortada, como de costume, e a intensidade de Aquino, as minúcias amorosas tão bem contadas pelo escritor não foram ilustradas para as telonas do jeito que tanto mereciam. Normalmente eu evito fazer comparações tão drásticas, mas dessa vez eu preciso abrir um parênteses. Este livro se tornou, facilmente, o meu romance nacional favorito e é meu dever mostrar isso para vocês (Eita menino dramático, hein?). Sei que não são poucos que encontram dificuldade em acreditar na literatura nacional (O trauma dos "paradidáticos obrigatórios" do colegial realmente é forte, eu sei), porém alguns medos foram feitos para serem superados. A nova safra da literatura brasileira pode te surpreender.
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