O Filme Perfeito - Jodi Picoult, por Trinta.

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Sempre fui muito interessado por dramas familiares. Paternidade, Traição, Divórcio, Lealdade; todos esses temas especialmente recorrentes deste gênero tem um valor especial na minha zona de interesses, e por isso, não deve ser surpresa para vocês a minha afeição por uma autora como Jodi Picoult. Mais conhecida pelo polêmico A Guardiã da Minha Irmã (Aquele livro que virou filme com a Cameron Diaz e a Abigail Breslin, lembram?), Jodi possui um senso crítico que me conquistou desde o primeiro livro dela que pus em mãos, o Pacto, o qual eu tive a chance de resenhar aqui no ano passado.  Dessa vez, apresento aqui no EL o virtuoso O Filme Perfeito, um livro capaz de questionar aquela velha ideia do casamento dos sonhos... Deus do céu, ainda bem que eu ainda não sou casado. 

Em sua primeira noite em Los Angeles, o novo policial das redondezas Will Cavalo Alado dirige pelas ruas da cidade afim de conhecer um pouco mais do seu novo lar. Se você já está se perguntando o porquê desse sobrenome tão peculiar, a razão dela é muito bem explicada: Will é descendente de uma tribo indígena - os lakota - fruto de uma herança genética que nunca realmente lhe agradou. Após abandonar a Reserva Pine Ridge, o rapaz busca uma espécie de porto seguro na metrópole, mas o que realmente aparece a sua frente é muito mais do que isso; pois assim que passa com seu carro pela frente de uma igreja, Will descobre uma mulher desamparada, perdida, sem documentos ou qualquer lembrança de suas origens. Não demora muito até  conhecermos quem ela realmente é: Esta é Cassie Barret, uma renomada antropóloga que carrega o título de esposa de Alex Rivers, o ator mais desejado de Hollywood.

Até aqui já deu para notar o quanto "O Filme Perfeito" trabalha dois arcos "completamente" diferentes. Em primeiro lugar temos Will, um mestiço que foge de sua natureza pelo seus problemas com a sua própria tribo (e sua natureza). Ao lado disso, temos Cassie que é apresentada (ou reapresentada) a um mundo que deveria desde o início ser o seu lugar; a mansão, o glamour e o amor de um astro de cinema que representa tudo aquilo que uma típica mulher desejaria para si mesma. No entanto, essa diferenciação de histórias serve perfeitamente como uma forma de unir dois caminhos para um mesmo destino. Jodi Picoult nos quis entregar em Picture Perfect uma história de identidade, revitalizando a ideia de que uma pessoa apenas encontrará a força que precisa para seguir em frente quando se encontrar consigo mesmo.

Como toda história de amnésia, vamos descobrindo quem Cassie realmente é junto da própria personagem, e com isso, nos aprofundamos dentro de um segredo que nem Hollywood imaginaria de seu tão querido marido. Alex Rivers se revela como um homem possessivo e violento, um ator descontrolado que parece nunca estar mostrando sua verdadeira faceta. E é neste ponto que Jodi marca um grande acerto com Picture Perfect: A densidade dos personagens, mais uma vez, é um mar de mistérios e tonalidades, capaz de nos levar a questionamentos realmente sinceros quanto a culpa ou a redenção de cada um dos peões deste jogo.

Porém, contudo, todavia, isso não consegue apagar o quão o livro beira a bagunça em vários momentos de sua trama. Só para vocês terem uma ideia, existe uma espécie de "mega flashback" no livro, uma alinearidade com o tempo da história que, honestamente, fez mais confundir que ajudar a entender o desenvolvimento. Primeiro porque eu estava esperando que isso fosse apresentado de uma forma menos óbvia e drástica (o flashback começa tão "do nada" que eu pensei que tivesse pulado algumas páginas); segundo porque eu senti que eu passei mais tempo do livro lendo uma sequência de flashbacks do que uma sequência de fatos no presente, o que acabou jogando de lado alguns personagens que podiam ser bem mais explorados (Will e Ofélia, principalmente). Não falo aqui que não faça sentido usar este artifício neste romance - até porque é um livro de amnésia, poxa! - Mas houve uma certa "priorização do passado" que me fez pensar que a história poderia ter sido muito mais bem contada se Jodi tivesse optado por uma escrita linear. 

Infelizmente, devo admitir para vocês que Jodi Picoult não conseguiu manter para mim o nível de inserção no enredo que a autora majestosamente enfiou em mim garganta abaixo com O Pacto. Mas não quero que pensem que o livro é mal escrito não; sem sombra de dúvidas este não é o problema de O Filme Perfeito. Eu apenas espero que, em minhas próximas tentativas com a autora, eu volte a perder o fôlego com o quão excitante sua narrativa consegue (e sim, eu sei que consegue) ser. 


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