SA Partridge: Livros "para jovens" são só para garotas?

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Imagem: Getty Images- Ron Levine

Theatlantic.com postou um artigo bem grandinho em resposta a enquete da NPR Books dos 100 Melhores Livros Adolescentes composta, em sua maioria, por escritoras. 63% dos livros da lista, incluindo Harry Potter e Jogos Vorazes, foram escritos por mulheres.


O artigo atesta que mesmo as editoras favorecendo os livros escritos por homens, a maioria dos títulos da literatura young adult (No Brasil, young adult - YA - seria, teoricamente, o gênero literário voltado especialmente para o público jovem) são criados por escritoras e tem um público predominantemente feminino.
Se os resultados da enquete do NPR são um reflexo da concentração de leitores atual, o mundo YA é um lugar relativamente harmônico comparado com a batalha dos sexos lançada no campo da ficção adulta. Depois que as disseminadoras da literatura chicklit Jennifer Weiner e Jodi Picoult aumentaram a discussão sobre a disparidade entre livros escritos por homens e livros escritos por mulheres que são criticados pelo The New York Times Book Review, Ruth Franklin do The New Republic fez sua própria análise sobre o teto de vidro literário. Os  resultados foram desanimadores: Depois de revisar catálogos de treze grandes e pequenas editoras (e também de eliminar os títulos que muito provavelmente não seriam criticados), ela descobriu que apenas uma das empresas chegava perto de ter uma igualdade entre gêneros, enquanto a maioria tinha 25% ou menos de obras escritas por mulheres. 
Ao mesmo tempo, para a preocupação de alguns homens do campo, o gênero young adult tende a favorecer escritoras e o seu público feminino. E quando se fala na perspectiva comercial, a ficção adolescente está atingindo quase todos as outras audiências. Três das maiores sagas de livros levadas para o cinema da última década (Harry Potter, Crepúsculo e Jogos Vorazes) são da séries YA voltadas para mulheres. De acordo com a lista anual da Association of American Publishers, os livros para jovens e os para o público infantil foram listados como as categorias que mais vendem no mercado de livros em 2011. E mesmo que os livros teen talvez nunca alcancem o alto nível de adulação crítica dado para a última obra lançada do Jonathan Franzen, a sua fantástica popularidade os fazem ser quase impossíveis de serem reduzidos no universo da literatura.
Você pode ler o artigo completo aqui.
Eu não diria necessariamente que livros como Harry Potter e Jogos Vorazes são voltados mais para o público feminino, assim como não diria que livros como a série Alex Rider são mais para garotos. Meus dois primeiros livros tinham meninos como protagonistas, e ainda que eu não tivesse exatamente os leitores masculinos em mente enquanto os escrevia, eu com certeza não adaptei a história de forma alguma para chamar mais atenção das leitoras. Ainda assim, a maioria dos comentários e críticas que recebi eram de garotas, na verdade, a maioria da comunidade online do blogger parece ser de garotas.

As garotas leem mais? Eu coloquei a pergunta no Twitter.

Leitoras no twitter afirmam que há um maior interesse mesmo das editoras com o público feminino
O bibliotecário Rudi Wicomb acredita que as garotas criam sentimentos de apego mais profundos do que os garotos. 

"Eu não sou nenhuma autoridade neste campo, mas baseado em algumas experiências que tive com frequentadoras de biblioteca dessa onda de jovens leitores e a partir de algumas pesquisas que fiz para uma apresentação profissional para colegas, eu consegui focalizar este interesse em duas principais razões: Emoções e Química. Garotas se relacionam emocionalmente com as coisas, essencialmente "sentindo" mais e assim, conseguem criar uma empatia mais facilmente.  Livros YA são uma ressonância natural para esse tipo de empatia."
Ele afirma que a questão da química acontece durante a intensa fase da adolescência. "Além de hormônios, há desenvolvimentos internos no cérebro ainda acontecendo, os quais causam mudanças de atitudes, emoções e até em funções cognitivas."
Basicamente, o que o Rudi está dizendo, tirando a parte científica da coisa, é que se uma menina gosta de um livro, ela o recomendará para suas amigas, fará uma resenha em seu blog e colocará fotos do livro e imagens que a lembram dele no board do seu Pinterest.  Eu posso até me identificar um pouco com essa "culpa" também - quando criança, eu criei a minha própria livraria de referências de Harry Potter, e o apego emocional que tenho com a saga ainda existe.
Talvez possa até ser dito que garotos também leem, mas eles são menos empolgados quanto aos seus favoritos em comparação com as garotas.
Rudo acredita que os meninos raramente formam o mesmo sentimento de apego com livros que as meninas. Garotos sentem diferente. O paradigma do apego emocional ao ponto de chegar a uma fixação ainda existe, mas a diferença é que os garotos se viciam em um nível bem limitado de estímulo e experiência. Na escola primária, as primeiras fixações emocionais são a família, o esporte e talvez um XBox. Quando eles vão envelhecendo. as fixações vão se transferindo de um(a) estímulo/experiência para outro(a). Eles vão da família para, quem sabe, uma garota e isso é mantido até que se fecha para uma garota em particular. Se livros e o ato de leitura não são uma das primeiras conexões/fixações ainda do nível da escola primária, e se essa conexão não é mantida pela família ou amigos (o bibliotecário local), isso é diminuído até o ponto da perda desse sentimento, até que o desenvolvimento cognitivo atinge a adolescência, e agora, a ponto de ir para a idade adulta (ou talvez o cérebro se alinhe - o que quer que venha primeiro), ele realiza que precisa realmente começar a ler alguma coisa, senão se dará mal nas provas.  
Puku.co.za postou um artigo online chamado "Ganhando de volta os garotos adolescentes".
O mundo literário perdeu os garotos adolescentes. Quando as aulas começam no outono e eu pergunto quem leu alguma coisa neste verão, apenas algumas mãos masculinas se levantam para cima. Eu fico realmente chateado porque teve uma tarefa de leitura para as férias de verão, mas bem no fundo, , eu de alguma forma entendo. 
O autor argumenta que os garotos conseguem gratificação instantânea o suficiente dos esportes, filmes e videogames, e acabam não vendo propósito em ler. Na verdade,eles não leem de forma alguma.


O motivo pelo qual garotos adolescentes pararam de ler é evidente. É a forma de conseguí-los de volta que instaura um aparente impossível desafio para pais, professores, autores e editores. Mas há uma solução e é encontrada em uma bíblia dos garotos adolescentes, um livro que, seja lá qual for a idade, sobreviveu nesta transição para a cultura HD.
O Apanhador no Campo de Centeio de J.D Salinger  não atingiu o status de cult entre os garotos porque Holden xinga em, tipo, todas as páginas. E, acredite se quiser, não é popular porque uma prostituta entra em cena lá pro capítulo 13. É o fato da prostituta deixar Holden sozinho em um solitário quarto de hotel, com seus serviços gratuitamente, que fazem O Apanhador no Campo de Centeio o ápice da literatura adolescente masculina. 
Leia o artigo completo aqui.

Talvez como escritores (sejam mulheres ou homens), devamos tomar o desafio de criar livros que quebrem as convenções de gêneros, livros que atraem tanto garotos quanto garotas, e talvez até para leitores mais velhos também. Mas aí o único desafio que falta é descobrir o que os garotos pensam também.


Quais são as suas ideias?



                      (Uma tradução exclusiva do Escolhendo Livros deste artigo do SA Partridge)

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