O dia está lindo lá fora, com aquele solzinho fraco feito para quem não deveria estar fora da cama, e mesmo assim, cá estou eu preso no trabalho com vontade de escrever. Quando eu postar isto, provavelmente já será bem mais tarde e o tempo já terá mudado, assim como o vazio que anda no meu peito e todas as frivolidades instáveis típicas do dia-a-dia; Seja os ônibus que passam quando espero na parada para finalmente poder voltar para casa, as bananas carameladas que a Antônia faz de sobremesa porque sabe que eu adoro doces ou até a felicidade que me bate quando ligo o som e ainda está pausada na música que eu já queria ouvir de novo. Wouldn't it Be Nice, dos Beach Boys. Você não, simplesmente, ama essa música? Pois eu sim. E é com este feeling que eu sinto que estou preparado para falar de um livro íntimo - Uma pequena terapia chamada As Vantagens de Ser Invisível.
Se você não é um Charlie em si, então ao menos deve conhecer um. Ele é aquele garoto calado e introspectivo que você provavelmente esquece que existe quando está por perto - Ou se abre com uma facilidade abusiva graças a sua ~habilidade~ de ouvir. É, é exatamente isto: Charlie é um espectador. Ele vive das coisas que vê, escuta e absorve, e por mais que ele não abra muito a boca para opiniar, Charlie guarda uma voz realmente sábia dentro de si, uma voz que temos o prazer de conhecer graças a está série de cartas que resolve mandar para um "amigo" ouvinte - E apenas ouvinte. Nestas cartas, o personagem conta a sua rotina no colégio, seus desejos de ter um amigo, suas novas experiências, confidências e todas aquelas coisinhas adolescentes que nós já conhecemos.A grande surpresa é que não a nada a esconder aqui. Não a uma adolescência fantasiosa em que tudo é escrito em uma versão censurada para passar na tv aberta. Há sexo, palavrões, mentiras, defeitos e decepções. Em suma, 90% do que este período de vida costuma conter.
É engraçado como eu vejo por aí um bando de gente falando que As Vantagens de Ser Invisível é um livro melancólico e "cinza", quando o relacionamento que criei com ele foi tão... Quente. Eu devo estar soando como uma professora de artes plásticas, mas é a melhor definição que consigo encontrar. Sabe quando você está passando por alguma coisa chata na vida, o término de um relacionamento ou uma briga com seus pais e decide fazer alguma coisa para poder... Esquecer disto? Eu criei esse vínculo com Charlie (chamarei assim o livro porque para mim, ele é uma pessoa. A pessoa. Não um objeto ou uma história; sim, uma personalidade.). Tanto é que eu não o li desenfreadamente como os outros livros, mas o guardava para momentos especiais. Eu sempre o parava, e não porque não estava gostando, mas porque eu achava que precisava estar no momento certo para isso, logo, fiz um sistema: Lia Senhor dos Anéis até eu me sentir "Charlie", aí voltava para Vantagens. Como eu havia dito, é uma terapia. Uma bem específica (e sem horários fixos).
Perks of Being A Wallflower pode nos dar a impressão de que é um livro infantil no seu comecinho - como o próprio personagem diz, ele "escreve como fala", então não espere nenhum discurso freudiano - porém depois de alguns capítulos, dá para perceber que a ideia é nos aproximar de Charlie, como se fossemos o próprio "amigo" de suas cartas. O mais legal é que o autor não sai da plataforma do que nos conhecemos. Todas as coisas que você irá ouvir de Charlie nesse livro são bastante próximas ao nosso universo, como, por exemplo, a dor da perda de um membro da família, a dificuldade de se aproximar das pessoas, a inconstância do primeiro amor, o prazer de conhecer a literatura, a música, de tudo um pouquinho.
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