"Existem muitas maneiras de cometer suicídio. Os que tentam matar o corpo ofendem a Lei de Deus. Os que tentam matar a alma também ofendem a Lei de Deus, embora esta falta seja menos visível aos olhos do homem"
Paulo CoelhoO quão chata a vida pode ser? Chata o suficiente para dormir o dia todo? Entediante a ponta de se jogar em passatempos omissos e masoquistas só para quebrar a rotina? Tão Opaca e fosca que você pensaria em simplesmente... Tirar a sua vida? Olhe na minha cara e me diga, com todas as papas na língua: "Eu nunca pensei em suicídio". Tudo bem, eu finjo que acredito. Talvez você seja feliz mesmo. Um "goody-goody", como diria a expressão americana. Uma Pollyanna. Bem, sinto-lhes informar - Eu não sou. E hoje eu decidi apresentar para você um livro que já diz tudo no título. Veronika Decide Morrer. Mesmo.
Veronika é aquela garota linda que você já deve ter visto por aí. Ela provavelmente já teve muitos namorados, uma série de notas medianas e aquele histórico de festas invejável, de deixar qualquer alpinista social com uma veia estourada nos nervos. Mas ainda assim, ela está ali, com uma decisão afogada em sua garganta que quebra todo o conservadorismo de sua história: Veronika opta pelo suicídio. Por que? Não é da minha conta dizer. Mas quando acorda em um sanatório e descobre ter sobrevivido, toda a sua visão de vida muda e, junto com isso, seu conceito de loucura ganha um significado completamente diferente. Qual o problema em ser louco? Ironicamente, talvez seja tarde demais para uma descoberta existencial - Ela não sobreviveu exatamente; seu suicídio lhe deixou sequelas o suficiente para uma sobrevida curta, de apenas alguns dias.
Veronika Decide Morrer só conseguiu me convencer, integramente, em suas últimas páginas. Sim, como se fosse um mochilão para Europa mal planejado, daqueles que você passa a viagem toda com medo de algo dar completamente errado e só consegue sentir a satisfação de que valeu a pena... No último dia. Apesar de todo o preconceito (Compreensível, mas exagerado) que jogavam em cima de mim em relação ao Paulo Coelho, vou ter que defender o cara: Sua criatividade e sensibilidade espiritual conseguem fazer da obra uma experiência peculiar, que compensa qualquer limitação que ele possa ter na habilidade de escrita. Quero dizer, para um cara que nunca teve uma formação, como você pode discriminá-lo por chegar até aonde chegou? Ele é um dos poucos escritores brasileiros reconhecidos mundialmente. Tem Universidades na França que utilizam "O Alquimista" como material obrigatório de Mestrado em Literatura. Vamos ao menos dar uns créditos por isso? É um apelo que eu queria deixar aqui, saindo um pouco do campo do livro.
De qualquer forma, Veronika passa por uma "chacoalhada" de espírito arrebatadora, um empurrão que todo mundo um dia talvez precise (Afinal, quem nunca pensou, pelo menos em um momento, que a vida pode ser extremamente tediosa?). Se você não curtir essa parada zen que Paulo Coelho normalmente aborda em seus livros, aqui vai um conselho - Leia como metáforas. Esqueça a religião e os paradigmas. O livro só precisa ser sobre isso se você quiser. Há uma mensagem de coragem dentro dele que nada tem haver com qualquer parafernália espiritual. Há uma mensagem... De ter força de vontade o suficiente para esperar pelas surpresas.
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