O Chamado do Cuco - Robert Galbraith, por Trinta.

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Uma boa história de detetive precisa de muito mais do que apenas um mistério para conquistar a nossa atenção. Se refletirmos um pouquinho sobre o assunto, esse é apenas o primeiro passo para a construção de um bom romance policial; criar o ponto de interrogação para atiçar a nossa imaginação de leitor. Mas a alma do mistério vai muito além disso. Uma rápida passada pelos grandes whodoneits da literatura mundial nos revela que não há crime impactante que se segure sem um grande herói para resolvê-lo. Pode ser um gênio da lógica como Sherlock Holmes ou uma mente sábia e intuitiva como Hercule Poirot, não importa! - Não há leitura mais recompensadora do que aquela na qual admiramos o nosso herói. E posso dizer que Cormoran Strike, o detetive "com cara de mal" de O Chamado do Cuco, tem tudo para se tornar o novo queridinho dos romances policiais da atualidade.


Somos apresentados a Cormoran em uma situação nada agradável. Seu escritório de investigação particular não anda bem das pernas, o aluguel está atrasado e o seu casamento acaba de dar o último suspiro. Como não possui dinheiro para pagar uma secretária fixa, Strike acaba sendo obrigado a contratar a empresa Temporary Solutions, que lhe manda uma secretária por semana por um preço mais acessível (parece uma saída barata, mas acredite se quiser, não é sempre que ele pode esperar uma "boa profissional" para o ajudar com a papelada, né?) . Apesar de tudo parecer estar indo por água abaixo, uma chance de ouro aparece na porta de Cormoran quando John Bristow procura por seus serviços. Este é o irmão da famosa top model Lula Landry, uma jovem problemática que recentemente caiu da sacada de seu apartamento em um suposto suicídio amplamente noticiado pela mídia. Aos poucos, acompanhamos o Detetive Strike em uma investigação cautelosa por dentro de um mundo onde dinheiro, fama e poder dita as regras do que realmente pode ser dito.

Apesar de termos mais uma vez uma trama que lida com a velha história dos "ricos e suas riquices", Roberth Galbraith* consegue tirar água de pedra desse típico lugar comum. Não há um desfile de personagens belos, mas sórdidos "pelo bem do esteriótipo". Os detalhes da narrativa não esbanjam o glamour do cenário ou batem na velha tecla do quanto tudo aquilo parece superficial. A verdade é que o autor parece muito mais preocupado com a construção de um mistério compreensível e realista em que os personagens fazem sentido dentro de seu contexto. Claro que teremos uma modelo com tendências fúteis ou um milionário galinha. Mas não é só dessas alcunhas que os personagens se definem. A mesma modelo fútil pode se demonstrar uma grande amiga da vítima em determinado momento. Aquele personagem com todas as características de "um sujeito boa praça" pode ter feito uma pequenina coisa que fez toda a diferença para que o mal acontecesse. Se há uma coisa que senti em O Chamado do Cuco é que, por mais que a história parecesse ter aquela mesma base de sempre, havia sempre uma grata surpresa do outro lado da página pronto para puxar nossa orelha com um "Ei, também não é bem assim".

Estou me corroendo a cada parágrafo para não deixar algum spoiler escapar a cada teclada, mas possivelmente uma dessas surpresas está na relação entre Cormoran Strike e Robin, sua secretária temporária da vez. Para começo de conversa, os dois personagens são incríveis por si só: Cormoran como um detetive que só tem a cara de poucos amigos (porque eu imaginei o coração dele como um pacote de manteiga no microondas) e Robin como a secretária com mais tendências a sidekick que o próprio Robin do Batman (Ha, não resisti ao trocadilho infame.). Quando juntos então, parece que a história consegue fluir ainda melhor. Talvez uma das poucas críticas que tive era o quanto queria mais cenas dos dois juntos investigando o caso. Tenho grandes esperanças disso no próximo livro, mas isso ainda é uma incógnita na minha cabeça. 

Só para dar o meu pitaco sobre a ~solução do caso~ (a seguir, não darei spoiler, mas se não quiser nenhuma chance de informação do que vai acontecer, PARE AGORA!), admito que não foi lá o "quem" que me agradou. Não sei porque, mas eu já tinha na cabeça qual era a pessoa culpada e o motivo, maaaaaas, graças a deus, como em todo bom whodoneit, é o "como" que realmente importa. e os momentos finais me deixaram muito satisfeito e empolgado. Dá para pedir mais do que isso?

Já leu O Chamado do Cuco? Não deixe de comentar aqui as suas impressões ou suas expectativas.

*Apesar de já ser um fato pra lá de noticiado e exposto no próprio livro, Robert Galbraith é um pseudônimo de J.K. Rowling, autora de Harry Potter. Como eu, particularmente, tenho a política de respeitar pseudônimos, preferi respeitar durante o post o uso dele independente de qualquer coisa.



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