Jogos Dignos de Um Livro: "Gray Matter", por Trinta.

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Fonte: Blue Sun Games 

Faz um tempo que eu deixei esta coluna nas mãos do Natan, mas se ele me permite, vou pegá-la emprestada para uma pequena, pero valiosa, adição ao nosso querido Hall de Dignidade Literária dos Jogos (de onde diabos eu tiro essas coisas...). Em uma mistura de paranormalidade, Dr. Frankenstein e o filme O Grande Truque, a coluna de hoje veio para mostrar a verdadeira magia dos adventure games. 

Acredito que se existe um gênero no universo gamer que sempre investe em boas histórias é o Adventure,  um ramo que teve o seu auge na década de 90 e, infelizmente, quase desapareceu do mapa nos últimos anos. Por isto, como o fã que sou deste nicho, acho super justo abrir um espaço nesta coluna para apresentá-los ao misterioso Gray Matter, uma recente jóia dos jogos de aventura point and click que poderia facilmente fazer parte da sua estante. Quem está afim de um mistério?



Como sempre fui apaixonado pelo gênero, Gray Matter logo chamou minha atenção quando entrou no acervo do Steam (uma plataforma de compra, venda e gerenciamento de games super em conta) e, tchamtchararam, com 20% de desconto na semana de lançamento. Assim como The Cat Lady, o jogo já se apresentava como um daqueles mistérios sobrenaturais cheio de quebra-cabeças e perguntas sem resposta, mas com uma curiosa peculiaridade; debater crenças sobrenaturais utilizando o universo da neurobiologia e dos truques de mágica.

Imagine o quanto fiquei surpreso ao ver um pequeno game indie partir de uma visão tão inexplorada sobre a morte - afinal, normalmente quando se fala em histórias de fantasmas sempre se escolhe o caminho fácil das explicações místicas e religiosas - e conseguir desenrolar uma história interessante E crível. Claro que eu não sou nenhum expert nos estudos sobre telecinésia e eventos paranormais (acho que filmes de terror não conta como material de pesquisa, snif), mas se tem uma coisa que Gray Matter conseguiu foi me fazer refletir sobre o potencial desconhecido do cérebro humano (este spoiler só sera capturado para quem realmente sabe o que é Gray Matter). Mas bem, deixa eu cortar essa babação de ovo que o jogo presta demais para eu não falar dele!

Gray Matter é um jogo de 2011 da renomada designer Jane Jensen (conhecida pela série Gabrel Knight). Sua trama nos apresenta a aprendiz de mágica (pelo menos eu ~acho~ que o feminino de mágico é mágica) mochileira errante e ex-gótica (... eu juro que o jogo é bom!) Samantha Everett, uma curiosa garota que tem como objetivo de vida viajar pelos vários cantos do mundo como se não houvesse amanhã. Porém, em uma fatídica noite, sua moto acaba enguiçando, o que obriga a protagonista a procurar por um refúgio. E claro que, de todos os lugares do mundo, ela bate de frente com uma mansão enorme e super assombrosa que eu preferiria dormir no relento da noite do que ter que sequer pensar em tocar naquela porta.

Mas tudo bem, vamos desconsiderar a sanidade mental da garota. Sam é recebida por uma agradável velhinha, a Sra. Dalton, que acaba a confundindo com uma suposta universitária que estaria chegando naquela noite para preencher o cargo de secretária do proprietário da casa. Sam, que de boba não tem nada, logo assume o papel que lhe foi dado, aproveitando da hospitalidade que tanto lhe viria a calhar naquela noite fria.  Porém, na manhã seguinte, Sam logo descobre que o seu novo patrão nada mais é do que o misterioso neurobiólogo David Styles, que precisa urgentemente que sua nova escrava empregada arranje "seis cobaias" na universidade para o seu "novo experimento". Um pedido super normal e saudável.


Samantha Everett.
David Styles.


E é a partir daí que tomamos controle do jogo, alternando entre a Samantha e o Doutor Styles para desvendar este novo e estranho relacionamento entre os dois. Do lado de Sam, somos levados a explorar o mundo universitário e a acompanhar a sua caça ao tesouro ao clube secreto Deadalus Club, um grupo fechado e sigiloso de mágicos profissionais. Já David se mantém boa parte do tempo enclausurado em sua mansão, na qual precisamos ajudá-lo a completar suas pesquisas científicas e descobrir uma forma de reencontrar a sua falecida esposa.

Por mais previsível que seja a história do cientista que "procura incansavelmente entender a morte de seu amor perdido de uma forma racional", este jogo não transita no lugar comum. David é um personagem teimoso, arredio, quase frio, que questiona a si mesmo o tempo todo se vale a pena perseguir uma pesquisa que se afasta TANTO do que realmente é comprovado cientificamente... Mas ainda assim, crê e luta pela existência de um universo sobrenatural. Ao mesmo tempo, Sam e a sua dedicação pelo mundo mágico estranhamente contradiz com os questionamentos de Styles, até porque toda mágica tem um truque realístico - por mais desanimador que isto seja - e enquanto Styles procura o irreal na sua realidade, Sam busca exatamente o contrário.

 Como um jogo de mistério, Gray Matter é um prato cheio para aquele friozinho na barriga de ~suspense no ar~. O ritmo às vezes lento, às vezes rápido funciona perfeitamente, principalmente por nos deixar ansiosos se os mistérios tem motivos palpáveis ou se há mesmo algo místico na história. Acho que uma coisa que sempre me irrita (sempre não, porque com certeza é algo perdoável em alguns casos) em histórias sobrenaturais é o quão os personagens aceitam que aquele "fantasminha camarada falando com você" é algo "ok", e em Gray Matter, graças a deus, isso non ecxiste. E, ironicamente, deixa a fantasia ainda mais acreditável!

No mais, poucos são os detalhes que ficaram abaixo das minhas expectativas. Os personagens são carismáticos (principalmente Sam e os estudantes de Edmund Hall), os cenários são lindos e a jogabilidade, para um point and click, é bem acima da média.  Uma ideia divertida foi a utilização de truques de mágica para solucionar puzzles, de maneira que você de vez em quando vai ter que parar na lojinha de instrumentos mágicos na cidade para "manter o estoque de "parafernálias mágicas".Talvez o sistema fique cansativo com o decorrer do jogo, mas sinceramente, eu achei a ideia bem cuidadosa (gosto quando um jogo parece ter sido planejado em todos os mínimos detalhes).

Um dos meus cenários preferidos.
Além disso, devo abrir um parênteses para algumas escolhas tristes de dublagem. Senti alguns atores beeeeem forçadinhos (Helena e Angela, sorry), mas como tenho um bom coração, consegui relevar por ser um jogo indie. Ainda assim, para tentar melhorar a parte sonora da obra, a trilha sonora de Gray Matter é maravilhosa! Sério, hands down! Até baixei essa música deliciosa do The Scarlet Furies, que toca sempre no menu e é o teminha da Sam. <3


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