Scott Pilgrim Contra o Mundo (Volume 1) - Bryan Lee O'Malley, por Trinta.

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Quem acompanha o Escolhendo Livros sabe muito bem que eu sou um amante voraz de videogames. Acredito que, na atualidade, o universo dos consoles é um dos campos mais férteis para a criação de narrativas dinâmicas e multimidiáticas, tanto pela capacidade de inserção que os jogadores tem a sua frente quanto pelas inúmeras roupagens que o storytelling pode conter. Então quando eu digo que resolvi dar uma chance para Scott Pilgrim Contra O Mundo - uma graphic novel canadense inspirada no estilo visual dos fliperamas dos anos 80 - não é uma grande surpresa, não é? Com um herói pronto para a porradaria, uma mocinha indefesa (mas sem perder a vibe "too cool for school") e vários chefões/ex-namorados para atormentar o caminho dessa história de amor indie, Scott Pilgrim é o assunto para esse domingo pós-férias!
                              

Fonte: Fanpop

Lançado por aqui no Brasil em 2010, o primeiro volume de Scott Pilgrim Contra o Mundo nos apresenta a vida de Scott Pilgrim (dã), um jovem voluntariamente desempregado, dono da banda meia-boca Sex Bomb-Omb e com um histórico de namoradas consideravelmente instável. A última da lista é a colegial Knives Chau, uma chinesa de 17 anos que é completamente apaixonada pelo protagonista, a ponto de ser um verdadeiro grude. Mas quando Scott conhece a garota de seus sonhos Ramona Flowers, o rapaz decide jogar tudo para o alto e correr para conquistar a misteriosa entregadora de cabelos roxo da Amazon. No entanto, pouco ele sabe que para ganhar o coração de Flowers, ele precisará enfrentar a Liga dos Ex-Namorados do Mal de Ramona, um bando cheio de figuras bizarras e loucas que não vão deixar Scott levar a melhor sem uma boa luta à la Street Fighter.

O próprio criador da série Bryan Lee O'Malley deixa bem claro na contra-capa do livro: "Scott Pilgrim é a obra da minha vida". Logo, se há um fator positivo da HQ que podemos enxergar com facilidade é o quanto o autor se entrega ao trabalho. A apresentação dos personagens com "fichinhas técnicas", as onomatopéias características (*pausa*, *despausa* etc) e as piadas cheias de referências pop conseguem convencer o leitor de que o universo da história é crível e, de certa forma, único. Esse comprometimento consegue construir alguns momentos de verdadeiro brilho na trama, como por exemplo o término de Knives e Scott, que ilustrou, em poucos quadros, a frieza emotiva do protagonista e o amor adolescente da chinesinha com uma simplicidade admirável. 

Outro acerto impossível de deixar passar é a construção de alguns personagens e... Aff, a quem eu estou tentando enganar? Da construção especialmente de um deles; o Wallace. Sim, o colega de quarto gay do Scott. Bem, o que posso dizer... Ele é hilário. Sabe aquele personagem que sai completamente do estereótipo e, justamente por isso, parece real e palpável? Pois esta é a definição para essa obra-prima em traços de nanquim. Sarcástico, esperto e com uma língua afiada, o melhor-amigo-bicha-má solta alguns comentários de morrer de rir, se tornando para mim o personagem mais interessante da cabeça de O'Malley.
Pode me cantar também, Wallace. Eu aceito. >:
Fonte: Comics Bulletin
Porém, independente do sentimento de puro amor que tenho pelo Wallace ou as boas risadas que tive durante a leitura, sinto-lhes dizer que Scott Pilgrim não evolui muito mais do que isso - Um livro de gags. O fio narrativo principal perde o propósito depois da metade do primeiro volume; as "cenas de ação" são exageradas demais para serem empolgantes e excessivamente repetitivas para caírem no cômico; o traço simplificado não me agradou em vários momentos e, principalmente, o protagonista é um pé no saco. Todas as vezes em que ele mostrava o quão obtuso e vazio ele conseguia ser, o meu cérebro apitava um "Por favor, alguém chacoalha esse menino, que ele tá se achando a última caixa de bombons lacrada nas lojas Americanas". A Ramona, então, nem se fala. Normalmente não tenho problemas com manic pixie dream girls*, mas ela é tão limitada a este conceito que não tem como não achá-la supérflua.

Não se engane, não quero desmerecer a criação do autor. Até porque, a legião de fãs da série estão aí para se oporem ao meu post. Eu, todavia, prefiro ficar com o filme de 2010, que me fez gostar bem mais de alguns outros personagens devido as atuações on point (Estamos falando de Kieran Culkin,  Mary Elizabeth Winsted, Anna Kendrick, Chris Evans etc) e a uma direção de arte impecável. Só para dar uma palhinha, assistam o trailer e tirem suas próprias conclusões:




*"O conceito, criado pelo crítico Nathan Rabin do site AV Club durante uma resenha de “Elizabethtown”, parte do princípio de que para cada homem solitário e macambúzio existe uma heroína feminina (os gêneros não são fixos, mas os manteremos assim para o bem deste artigo) que vai notá-lo no canto mais obscuro de qualquer sala de aula e enxergar nele um potencial incrível que ele jamais havia notado sobre si. Juntos, eles embarcariam numa aventura de auto-descoberta que, dependendo do diretor, poderia vir acompanhada de uma excelente trilha sonora, e os levaria a um inevitável e romântico final feliz." Leia mais sobre este conceito no blog Matéria Obscura.
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