O Visconde Partido Ao Meio - Italo Calvino, por Julio.

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Estamos em guerra, Escolhedores de Livros! Levantem os estandartes, preparem os escudos, as lanças e/ou as espadas. Façam as suas melhores expressões de maldade, lustrem as armaduras. Mas muito cuidado! Há boatos de que, um dia, ao ser atingido por uma bala de canhão, um visconde acabou sendo partido ao meio - e, estranhamente, sobreviveu, tendo uma vida assombrada desde então. Hoje iremos ser dúbios, analisaremos o bem e o mau separadamente, adaptaremos nossos pontos de vistas, seremos separatistas. Agarrem-se bem às suas metades e segurem-se firmes a elas: não corram o risco de serem partidos ao meio! Ninguém sabe o que pode acontecer caso você seja dividido, e o risco de morrer é enorme.


Quando pensamos em fantasia, é quase que certo (pelo menos no meu caso) que venham em nossas mentes livros como "O Senhor dos Aneis", "As Crônicas de Nárnia", "Guerra dos Tronos" ou "Harry Potter": sempre aquela coisa que envolve a magia, grandes mundos, guerras gloriosas. Tudo é gigantesco, tudo é exagerado, de certa forma. Mas, fantasia é apenas a fuga de uma realidade. Uma forma de escapismo, ouso dizer. A prova me foi dada quando me indicaram o autor ítalo-cubano(é isso mesmo? Tô certo?) Italo Calvino.

Italo apresenta nesse livro (e em muitos outros) uma fantasia diferente, simples. A magia está lá, os mistérios e cenários inventados, também. Porém, não é tão grande quanto uma Terra-Média ou País das Maravilhas. Isso não deixa a história menos interessante, no entanto. Não nos focamos, ao ler Italo Calvino, nas paisagens, ou mesmo na questão de magia e mistérios: apenas a história é o que nos interessa. E ela é tão boa, mas tão boa, que perdemos até uma noção de realidade; mergulhamos no romance de uma vez e não queremos sair.

O Visconde Partido Ao Meio conta a história do Visconde (Ó, quanta surpresa, Julio!) Medardo Di Terrabalda (o nome não é dos mais bonitos, eu sei), que, ao ir para a guerra contra os turcos, é partido ao meio por uma bala de canhão. Os médicos, porém, conseguem resgatar uma de suas metades, e, pasmem, fazer com que sobreviva! Aí é que começa realmente a verdadeira síntese: volta para casa um Medardo totalmente diferente, cruel, frio, solitário. Ele gosta de torturar, matar, prender os inocentes e, também, num bizarro ritual, partir tudo o que vê ao meio com sua espada. Cogumelos, polvos, árvores e todas as coisas imagináveis. Diz que viver como inteiro era o Caos, e, apenas sendo metade, vê as coisas de forma sólida e real. O seu meio-sorriso espanta a todos em Terrabalda, também no Prado Do Cogumelo, a Terra dos Leprosos, e também Col Gerbido, lar de refugiados. A fama de Medardo alcança os confins de todo o país.

Eis que surge, então, tão misteriosamente quanto o primeiro, a Outra Metade. O Bom, como é chamado pelo povo. Espalhando atos gentis e de cura para todos. Aquilo dá um caos imenso em todo o lugar: como uma rotina, o que é destruído irá ser consertado, para, então, mais uma vez, ser destruído de novo. E o pensamento que perturba todos é: como é possível ser apenas metade?

O livro é um tanto quanto filosófico, de forma visceral, porém, indireta. Nada se dá de forma tão precisa, e temos que observar os pensamentos e reflexões de forma dúvida, como se estivéssemos separando o joio do trigo. Italo Calvino brinca com a narração, alternando entre primeira e terceira pessoa de forma genial. Não há mais o que falar além de: não percam a oportunidade de lê-lo.

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