Tem clichê mais gostoso do que terminar de ler O Morro dos Ventos Uivantes em uma madrugada chuvosa e friorenta? O engraçado é que a reação que tive com o final do livro não teve NADA haver com a minha primeira impressão açucarada de Wuthering Heights: Medo. Quando você se depara com os fantasmas angustiados presentes durante toda a leitura deste clássico, não tem como você dissociar o amor possessivo entre Heathcliff e Catherine de uma verdadeira história de terror psicológico. O anti-heroísmo presente na vingança de Heathcliff me chocou – Não esperava tanto ódio dentro de um protagonista! – e seus atos são tão compreensíveis que não pude deixar de sentir pena, compaixão e até mesmo amorpor ele. Olho por olho, dente por dente. O que há de tão errado em tirar tudo daqueles que lhe tiraram tudo também? O que é incrível na narrativa de Emily Brontë é que você não deixa de odiá-lo, assim como TODAS as outras personagens do livro; ela soube realmente passar a ideia de que o ser humano tem qualidades e defeitos. Para falar a verdade, muito mais erros do que acertos. Todos tem a sua camada de egoísmo, hipocrisia e soberba dentro da Granja dos Tordos e do Morro dos Ventos Uivantes e eu, como simplesmente me apaixonei pelo livro, não podia deixar de apresentar pra vocês uma história tão tocante como essa aqui no Escolhendo Livros.
Através da narrativa da empregada Ellen Dean, conhecemos os Earnshaw, uma família amplamente conhecida na região de Gimmerton, Yorkshire, por ser a residente do famoso Morro dos Ventos Uivantes. Depois de uma viagem para a cidade, o patriarca dentre eles trás de volta para casa um pequeno órfão, de origem desconhecida a todos, o qual nomeia “Heathcliff”. O garoto acaba se tornando o favorito do Sr.Earnshaw, criando atrito com o seu filho legítimo, Hindley, e a afeição de sua nova irmã, Catherine. Eles crescem juntos sobre uma criação igualitária entre ambos, até o pai/padrasto das crianças falecer e Hindley assumir o posto do Senhor do Morro dos Ventos Uivantes. A infância de Heathcliff muda abruptamente, transformando-o em um empregado da casa e cada vez mais o separando de Catherine. Mas isso apenas aproxima os dois, cultivando um amor que, apesar de forte e intenso, não impede Cathy de agir pela cobiça e se casar com o Edgar Linton, o endinheirado herdeiro da Granja dos Tordos. Heathcliff se vê traído por todos daquela casa, seja por terem o abandonando ou o por impedi-lo de sair da ignorância, e assim, acaba fugindo do Morro dos Ventos Uivantes. Anos depois, Heathcliff volta para Gimmerton rico e forte, o que atrai a atenção de Catherine e o ciúme de Edgar. Qual será sua intenção ao voltar para a cidade? A partir daí, Brontë constrói os contornos de uma das maiores personalidades da literatura, colocando Heathcliff como um bruto e voraz demônio com apenas um ponto fraco: Os olhos castanhos de Catherine Earnshaw.
Como já foi dito aqui, não espere um romance bonitinho e cheio de frufru (como a MALDITA tag da capa - “o livro favorito de Bella e Edward” - tenta vender ao público) e muito menos um príncipe encantado na pessoa de Heathcliff. Ele é um bruto, ignorante, sem discernimento de conceitos como perdão e bondade, alimentado unicamente pela raiva de ter perdido a única coisa que lhe valia a vida. Catherine então, me desculpem o termo, é uma verdadeira VACA. Mesquinha e superficial, às vezes me perguntava por que diabos ele se apaixonou por ela. Mas aí o estalo vinha logo a minha cabeça e me lembrava do quão defeituoso ele também era. A sacada genial de Emily ronda justamente na crítica ferrenha a uma geração repleta de preconceitos quanto à raça e a falta/presença de inteligência, sociedade pela qual a única regra que funcionava era a da hipocrisia sobre os seus “inferiores”. Você, como leitor, não pode criticar um personagem... Simplesmente porque o outro não é nem um pouco melhor! E era exatamente isso que Catherine, Edgar, Hindley, Isabella, Joseph e a PRÓPRIA Ellen Dean ( a narradora) faziam. Julgavam. Eles mereciam a vingança de Heathcliff? Mereciam. Mas todos nós merecemos as penalidades da vida e nem é por isso que devemos ganhá-las. O amor tornou cego a visão do “mocinho” de Wuthering Heights, e a forma como ele tenta aplicar uma lição naqueles que corromperam sua alma apenas evidencia o quão ele mesmo está fadado ao inferno. E não, não falo do inferno religioso, aquele demoníaco que tantas vezes é citado no livro... Mas o inferno de sua própria infelicidade.
Eu consegui sentir os ventos roçando minha nuca. As pontadas de dor sempre que Edgar e Catherine humilhavam Heathcliff. A frieza do quarto de Hareton. A voz delicada de Isabella. Os cachos encaracolados de Catherine batendo contra seus ombros. Os encontros contra a árvore de quando Heathcliff expurgou seus demônios. A textura árida do galpão do Morro dos Ventos Uivantes. Eu consegui sentir tudo que a autora queria que eu sentisse. Não é isso que deveria ser o conceito de escrever? Sentir. E mesmo sendo um livro obscuro e trágico, Wuthering Heightspassa calor. Um calor frio como o amor de Heathcliff por sua amada... E quente como a ira dos que nunca serão perdoados.
"Não é fácil perdoar, olhar para esses olhos e agarrar essas mão mirradas. (...) Beija-me e não me deixes ver os teus olhos! Perdoo-te o mal que me fizeste. Eu amo quem me mata. Mas... Como poderei perdoar quem te mata?"
Heathcliff - O Morro dos Ventos Uivantes.
Quando cursava o ensino médio, tive o privilégio de achar na biblioteca O Morro dos Ventos Uivantes da Coleção Excelsior, uma edição muito antiga. As páginas eram amareladas e tinha aquele cheirinho de livro velho :D
ResponderExcluirEm 2009, a BBC transformou a história em série e ficou super bacana. Tom Hardy estava incrível!
Nem me fale em Tom Hardy! Fui ver "Guerra é Guerra" sábado com uma amiga e ele tava incrível <3, se é que você me entende. HAHAHUAHUAA. Adoro-o, e nossa... SUPER imagino ele de Heathcliff!
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