Todo mundo diz que feriadão sem viagem não tá com nada. Não há nada como pegar o carro, chamar os amigos e partir para alguma cidadezinha do interior em busca de uma experiência única; um tempo que nunca mais se repetirá. Eu até poderia dizer que Dias Perfeitos, o segundo livro do jovem autor brasileiro Raphael Montes, é um livro sobre este tipo de viagem. Porém, isto seria esconder o ouro. Esta é uma história de amor, sequestro e obsessão.
Téo é um jovem estudante de medicina de poucos amigos, ambições e sonhos. Não dá para dizer que sua vida é feita de grandes emoções: Ele cuida de Patrícia, sua mãe paraplégica, se dedica aos estudos de anatomia na faculdade com o amor de um aluno dedicado e vai todos os finais de semana para a igreja, como um bom filho de beata. Até que um dia, Patrícia o arrasta para uma festa e Téo conhece uma garota diferente; Clarice, que nunca leu Lispector. A pouca conversa que tiveram já esboçava grandes diferenças entre os dois: Téo, metódico; Clarice, desapegada. Téo só escutava música brasileira; Clarice curtia internacionais. Mas mesmo que não fosse uma das meninas mais bonitas, o rapaz enxergou ali, pela primeira vez, o que significava se apaixonar. A partir daí, Téo começa a tentar se aproximar de Clarice à todo custo, em uma mistura de obsessão e amor incondicional.
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Fonte: O Globo |
Ao chegar em casa, Téo se sentia zonzo. Correu ao celular na cabeceira da cama e aproveitou para mandar uma mensagem à mãe. Acessou as chamadas perdidas, saboreando os dígitos da última ligação recebida. Ficou muito tempo deitado no sofá . Encarava o teto, revivia imagens. Algo havia explodido dentro dele. Algo que ele não conseguia nem explicar. Ainda que não soubesse o sobrenome de Clarice, onde ela morava ou em que universidade cursava história da arte, ele tinha o número de celular dela e isso o tornava íntimos. (MONTES, Raphael. Dias Perfeitos. p.21)
Um fator que me chamou atenção é o quanto o lado corrupto do Brasil ajudou a enriquecer a obra. Não vou especificar os momentos, mas o livro aborda o caráter questionável que caracteriza o nosso povo com frequência (infelizmente), deixando o sequestro de Clarice ainda mais revoltante. É engraçado porque se pegarmos os livros e filmes americanos do gênero, dificilmente vemos a corrupção da polícia ou das pessoas aparecer com tanta visibilidade (no máximo a polícia sempre chegando no final depois que o vilão já morreu, mas isso é mais uma questão de burrice do que maldade, HAHA). Talvez faça até sentido para o público estadunidense, mas para a nossa cultura, é quase utópico. Por isso, Dias Perfeitos definitivamente é um romance policial palpável para nós e eu imaginei facilmente como uma dessas histórias loucas e sensacionalistas que aparecem de vez em quando nos jornais do país (o caso Eloá, por exemplo).
No mais, se há uma palavra que descreva esta leitura é... Sufocante. Fiquei sinceramente abalado com o decorrer da história e, quando o final vai chegando, fiquei desesperado pelo caminho que Dias Perfeitos estav tomando. Vou logo deixar bem claro; tenha um estômago forte, Raphael Montes sabe causar um impacto. Eu mesmo já estou pensando em comprar o seu primeiro livro, Suicidas, que pela sinopse já estou vendo que vou me corroer de aflição. Mas acho que é para isso que romance policial existe, não é? Fato mais que comprovado.
E olha só este booktrailer. E sim, aquele é o autor. E ele só tem 24 anos. E sim, ele já foi indicado para pelo menos uns três prêmios da literatura nacional. E eu aqui, escrevendo de pijamas enquanto baixo Grey's Anatomy.
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