A Lista dos Desejos - Eoin Colfer, por Trinta.

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Estou passando por aquele momento na vida em que respirar é um privilégio. Estágio de manhã, faculdade à tarde e cinco mil trabalhos e projetos na cabeça sufocando qualquer possibilidade de existir um pedacinho de free time para simplesmente... ler. Ok, talvez eu esteja sendo um pouco exagerado; o verdadeiro problema se chama "mente sobrecarregada" (até porque, ler antes de dormir sempre foi uma opção). São tantas preocupações no dia-a-dia que a minha meta de leitura atual - Tudo Aquilo Que Nunca Foi Dito do fofíssimo autor francês Marc Levy - já tá quase ganhando fungo dentro da minha bolsa da faculdade. Então, para não deixar vocês órfãos do EL, decidi falar de um livro que li há alguns anos - Mais de meia década atrás e, sim, comentar isso parece até que cria ruga na minha cara - o qual me trouxe, em uma das épocas mais difíceis da minha vida, uma sensação que hoje eu não hesitaria em ter de novo: O conforto de um refúgio. A Lista dos Desejos é meu "livrinho de cabeceira" favorito do Eoin Colfer (não sei se vocês sabem, o autor do famoso Artemis Fowl!) e, além de ser um ótimo thriller de aventura infanto-juvenil, carrega uma aura fabulesca que lembra levemente contos como o clássico"Uma História de Natal" do Charles Dickens.

Uma daquelas coisas que todo mundo sabe sobre o ser humano é o quanto ele é definido pelos seus defeitos e suas qualidades. Porém, um outro saber que não é tão exposto pelo senso comum, apesar de ser igualmente do conhecimento de todos, é o quanto essa balança de virtudes não é equilibrada. Você pode fazer um pouco a virgem de Guadalupe ou estar mais para um santo do pau oco, mas conseguir ficar em cima do muro é fisicamente impossível. Ou quase. The Wish List narra a história post-mortem da problemática Meg Finn, a garota que conseguiu a polêmica proeza de não ser nem má o suficiente para ir pro inferno e nem fazer o requisito para passar pelo portão do paraíso. Em uma guerra de egos entre São Pedro e Belzebu, é decidido que, para Meg conseguir o seu passe pro céu, ela terá que cumprir uma missão: Realizar a lista de desejos da última pessoa que fez mal quando viva - O velhinho Lowrie McCall (Que muito lembra o Senhor Scrooge!), dono da casa a qual Meg tentou assaltar. Já dá pra entender que a história irá unir esses dois personagens em uma epopéia cômica e cheia de pequenos ensinamentos no melhor estilo Colfer de trabalhar a figura do antiherói.

Acho que essa talvez seja a coisa que eu mais admiro no autor: Eoin não tem medo de escrever livros para crianças e adolescentes com protagonistas, no mínimo, controversos. Meg está longe de ser a garota da casa ao lado, meiga e adorável, um exemplo de doce e candura. Órfã de mãe e maltratada pelo padrasto, Meg sobrevive de assaltos e se mete com pessoas nada agradáveis, tudo com uma educação que deixaria muitas velhinhas de cursos de etiqueta de cabelo em pé. Mas a humanidade de seu caráter explora um  passado sofrido que a torna extremamente cativante e talvez muito mais associável para crianças do que as 'Miss Perfeição" que tanto vemos em livros por aí. Com um ótimo timing de humor, Meg poderia muito bem ser aquela sua amiga doidinha que, apesar de tudo, você sabe que tem coração. Em um mundo como o atual, nada como personagens assim para realmente nos mostrar o que podemos encontrar lá fora, independente do fato de sermos o público-alvo ou não. O velhinho Lowrie também brilha como o amargo desafio de Meg, o qual não apenas guarda segredos tocantes, como também mostra em cada um dos seus desejos feitos, uma nova faceta de sua verdadeira personalidade.

O contexto sobrenatural é agradável, dando contornos bem divertidos a história, seja com um Belzebu no mínimo irônico ou em todos os momentos de ação do livro que, surpreendentemente, não deixam a desejar (Problema principal que tive com Artemis Fowl). Você não achou que o Diabo iria ficar quietinho e não atrapalhar nenhum pouco a missão de Meg, não é? Mesmo tendo muitos detalhes que ficaram perdidos no tempo, se há algo que senti ao lê-lo foi a sensação de um trabalho bem aproveitado, daqueles que torna a sua leitura fácil de acompanhar. A própria criatividade da ideia fez algo em mim que, pra te ser sincero, me deixou um tanto emocionado com o passar da história.

A lembrança que guardei de Lista dos Desejos foi, principalmente, a de seu final que, sem sombra de dúvidas, construiu um dos clímaxes mais emotivos que já li em obras do gênero. Quando o assunto é morte, e sendo o ano o qual li o livro o mesmo em que perdi minha mãe, o julgamento final de Meg simplesmente abraçou tudo aquilo que poderia muito bem acontecer e - talvez - seja exatamente por isso que me pegou de surpresa. Essa é uma daquelas histórias que não tem final "final"; a vida não tem um final: Nós vivemos, pioramos e melhoramos. Quando chega a hora de escolhermos o próximo caminho, recebemos o fruto de toda a soma de escolhas que fizemos e travamos durante o tortuoso percurso de sermos alguém.

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5 comentários:

  1. Oi, Trinta!
    Não conheci esse livro, nem mesmo o autor. A história parece ser simplesmente incrível! Me interessei bastante e já adicionei à minha lista de desejos.
    Sua resenha ficou incrível e me deixou super curiosa.

    Beijos,
    Bianca - www.epilogosefinais.co.cc

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    Respostas
    1. Opa, coloque na sua lista sim! Hahaha, é um livro muito fofo!
      Beijos, querida!

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  2. Estou lendo este livro, estou quase acabando.. é um livro apaixonante ! :)

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  3. Adoooro A Lista de Desejos, um dos melhores livros que ja li

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  4. Eu tinha lido o início e adorei, mas acabei perdendo o livro, agora tento encontra-lo em livrarias e não consigo. Uma tristeza só.

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