Um Dia - David Nicholls, por Trinta.

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Dex e Emma. Emma e Dex. Me desculpem a indiscrição, mas... Será que eu poderia lhes fazer uma perguntinha? Pois bem, lá vai: Vocês têm noção de o quanto os seus nomes, juntos, tem tudo para virar uma espécie de marca dentro da geração literária dos últimos tempos? E estamos falando em uma época de Noahs e Allies (Do novo “livrinho de cabeceira” dos românticos incorrigíveis, Diário de uma Paixão), Henrys e Clare Annes (Na odisséia fantástica de A Mulher do Viajante do Tempo), Alaskas e Miles (Sexo, drogas e Rock'n'Roll de Quem é você, Alasca?)... Casais que mostraram o quanto a primeira década do novo milênio renovou os ideais de romantismo na literatura moderna.

Ler Um Dia (tradução de One Day, publicado em junho de 2009 e lançado aqui pela Intrínseca) me trouxe a cabeça uma noção da vida um tanto mais realista do que nós mesmos tanto idealizamos. Eu tinha uma concepção um tanto linear de como nós construímos a nossa própria história, como se cada capítulo do que vivenciamos fosse completamente conectado com o próximo, em uma trama compacta e coesa. Deus do céu, como eu podia ser assim tão... Unidimensional? David Nicholls, o autor do livro, mostrou com sua perspicácia o quanto os anos que se passam são, em grande parte, completamente desconectados um dos outros.

Para entender um pouquinho melhor a genialidade da obra, vamos à sinopse: Emma Morley e Dexter Mayhem sempre estudaram na mesma faculdade, apesar de nunca terem trocado uma só palavra – Você sabe, eram de mundos completamente diferentes. Emma é a aquela garota cheia de idéias revolucionárias, dotada de um sarcasmo aguçado o suficiente para tapar sua completa falta de auto-estima. Característica pela qual Dexter se diferencia completamente, já que sua fama de garanhão lhe convenceu de o quanto ele tem o seu próprio “valor no mundo”. Até que no dia 15 de julho de 1988, no fim da tão esperada festa de formatura, Dexter finalmente chega ao fim da lista de possíveis peguetes e se depara com Emma (provavelmente a única garota que ele ainda não havia pegado da faculdade), finalmente passando a noite com ela (isso não quer dizer sexo, hein?). A partir desse dia, David Nicholls vai construindo os capítulos no mesmo dia de cada um dos futuros anos da vida dos dois protagonistas, tecendo lentamente suas histórias entrelaçadas (ou não) com muito humor, romance e, como não poderia faltar, aquele drama delicioso que uma hora ou outra, irá te fazer chorar.

A mágica dessa leitura está em o quanto ambos os personagens passam por TANTAS fases diferentes durante os vinte anos que se seguem, em um processo de amadurecimento tão realista e bem descrito que eu praticamente me peguei pensando em como será minha vida daqui há algum tempo. A gente se vê como uma pessoa estável e de personalidade característica – Tipo, eu sempre vou ser aquele nerd wannabe roteirista, aficionado em livros, filmes e séries, não é? Não necessariamente. – quando na verdade, a chance de mudarmos daqui há um ou dois anos é infinita. Praticamente um fato comprovado. Claro que isso não significa que somos seres volúveis e mesquinhos, mas a verdade é que a nossa verdadeira personalidade, aquela inegável que REALMENTE faz parte de nós mesmos, é a que consegue sobreviver aos obstáculos do tempo. Como em um reality show em que o mais forte sobrevive e o resto vai sendo eliminado aos poucos...  É, por mais banal que seja a metáfora, a nossa visão de mundo é esculpida da mesma forma.

Acho que depois de tanta puxação de saco da minha parte, vou ter que admitir que Um Dia virou um dos meus livros preferidos, não é? Acreditem, não é à toa todo o buzz que ele teve esse ano. E é bem menos surpreendente o fato de ter sido adaptado para filme em agosto de 2011, estrelando Anne Hathaway (Da clássica releitura cinematográfica de O Diabo Veste Prada) e Jim Sturgess (do aclamado Across The Universe) como Emma e Dexter, respectivamente. E o nosso aproveit... Cof cof, adorável marketing já até lançou capa do livro com pôster, porque você sabe, capitalismo é um mal necessário hoje em dia:


             



   
       


Eu nem posso falar nada, porque a minha versão de Um Dia é com a capa do pôster (Ele é lindo, não é?), que acabei não resistindo a beleza delicada que é, sinceramente, bem mais condizente com o conteúdo do livro. E olha que eu sou do partido que odeia livro com pôster de filme – Só abri uma exceçãozinha básica, podemos relevar dessa vez, né? NÉ!? Hehehehe.

Pra quem gosta de dar uma espiadela, nada como conferir o trailer de Um Dia, que passa uma leve idéia de como é o livro e, apesar de nem se equiparar com a profundida da obra (Li o livro em 4 dias correndo para poder pegar o filme ainda nos cinemas daqui, ADMITO! HAHAHAHAHAHA. ), é até um adaptação decente e carismática.


Por fim, posso recomendar uma música da soundtrack que me fez chorar oceanos relendo o último capítulo do livro pela, sei lá, milioquadracentésima vez de novo? É da compositora Rachel Portman, conhecida por seu trabalho em Chocolate e Never Let Me Go. Virou um dos meus instrumentais favoritos e com um tom de despedida breve que apenas Um Dia conseguiu me passar. Até mais, Dexter. Até mais, Emma.


                                 “Whatever happens tomorrow, we had today.
                                                                         Emma Morley, One Day.



Trinta
(janeiro de 2012)
                                                                                                 
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2 comentários:

  1. "A chance de mudarmos daqui há um ou dois anos é infinita. Praticamente um fato comprovado."

    Isso é muito verdade. E eu acho isso tão interessante e legal - quando você tem personagens de livros que, assim como na vida, não são sempre a mesma versão de sí mesmos com personalidades unilaterais, mas sim pessoas vivas nas páginas que se moldam e aprendem com as situações, e se tornam pessoas diferentes, é legal ficar e observar quem o personagem se tornou com o tempo.
    Que lindo Risoto! Agora você realmente me fez querer ler esse livro, e você sabe que eu nem ia.

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  2. Olá :)
    Eu já li esse livro, achei interessante, mas achei que o autor poderia ter colocado mais conteúdo, algo mais rico.
    Um abraço

    www.my--bookshelf.blogspot.com

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